O "Dia da Amazônia" será celebrado nesta terça-feira (5 de setembro). A data reforça a importância de se definir os caminhos para o futuro do mais importante bioma do planeta. Com uma extensão territorial quase oito vezes maior que a França, a Amazônia brasileira ocupa quase 60% do território nacional e abriga uma infinidade de pessoas, plantas e animais. Cada vez mais, o bioma está no holofote das discussões mundiais, mas o que os diferentes setores econômicos pensam sobre quais são as prioridades para o desenvolvimento da região?
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Alex Dias Carvalho, o momento atual é de mudança de paradigmas e de comportamento para pavimentar um caminho de sustentabilidade para a região. No setor industrial, isso se reflete em buscar soluções inovadoras para os processos produtivos. "A indústria brasileira compreende a importância de pensar uma nova economia em consonância com o pacto global pelas mudanças climáticas, com o bem-estar social e com o uso racional dos recursos naturais", explica Alex. Segundo ele, o setor industrial já considera a manutenção de uma agenda sustentável como estratégia para alcançar maior diferencial de mercado e mais competitividade.
Para atingir esses objetivos, de acordo com ele, é preciso fomentar as práticas das gestões ambiental, social e de governança dentro das indústrias, para que consigam mapear seus riscos, modernizar seus processos e garantir uma atuação responsável em seus territórios - e a Fiepa vem atuando nessa linha. Carvalho ressalta ainda a importância de parcerias com os governos e demais entidades para buscar soluções em conjunto para questões como o baixo investimento em projetos de infraestrutura, burocracia do sistema tributário, dentre outros.
Juventude amazônida quer participar da elaboração de políticas públicas
Os olhares internacionais tem se voltado à região amazônica cada vez mais, em especial na temática do meio ambiente. Belém, a capital do Pará, será a sede da maior conferência mundial sobre as mudanças climáticas, a COP, em 2025, mas os eventos dessa agenda internacional já começaram. No início do mês passado, a cidade recebeu a "Cúpula da Amazônia", encontro dos chefes de Estado dos oito países que compartilham o bioma. Em Manaus, capital do Amazonas, também não faltaram programações sobre o tema, como a "Glocal Experience Amazônia", realizada de 26 a 28 do mês passado, que abordou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Para as organizações não governamentais que representam os jovens brasileiros, a agenda promove também um espaço para se expressar. A diretora de projetos e sustentabilidade da Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (Cojovem), Karla Giovanna, acredita que falta ainda participação desse grupo populacional nas discussões de políticas da região, o que, para ela, deve ser uma das prioridades para o futuro da Amazônia.
"São crianças, adolescentes e jovens que vão sentir os impactos das mudanças climáticas e as consequências das políticas decididas agora por mais tempo. Por isso, precisam estar na tomada de decisão, mas ainda faltam políticas públicas que incentivem essa participação e, de fato, abram oportunidades para ocuparmos esses espaços", ressalta.
VISIBILIDADE
De acordo com Karla, não existe um consenso do que a juventude da Amazônia busca como prioridades, mas uma das pautas que se tem como urgente é a necessidade de investimentos em projetos para adaptação às mudanças do clima. "Quanto mais ambiciosos forem os projetos, melhor. E acho muito importante esses eventos internacionais que acontecem na região, porque, apesar de ser um território extremamente rico, tem um cenário de profunda desigualdade em questões como saneamento básico e renda per capita. Então, é uma oportunidade de trazer essa visibilidade e para as belezas e tristezas de se viver na Amazônia", declara. (A.M.)
“Quem produz na Amazônia se sente excluído dessa discussão”
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre, Assuero Veronez, afirma que é importante que o setor esteja também presente nas discussões sobre a Amazônia. "Desde a 'Cúpula da Amazônia', que aconteceu recentemente, sentimos um certo distanciamento dos setores produtivos, que não tiveram muita vez e nem voz. Precisamos estar inseridos nessa discussão", ressalta. "Quem produz na Amazônia está se sentindo, de certa forma, excluído dessa discussão", pontua.
Na edição do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), o tema, inclusive, esteve muito presente. Foi a primeira edição que contou com um pavilhão oficial de comida e agricultura da Organização das Nações Unidas (ONU) no evento, onde se debateu o conceito de agricultura regenerativa, que defende o modo de produzir ao mesmo tempo em que se recuperam a terra e o meio ambiente. O formato é tido como uma saída para continuar preservando o meio ambiente enquanto se coloca comida na mesa da população.
"É inegável a vocação amazônica para a agricultura e pecuária. Temos solos muito apropriados, um clima fantástico... O desenvolvimento das tecnologias para a agricultura tropical hoje é consolidado. Por isso, produzir nos trópicos hoje é muito mais vantajoso. Conseguimos fazer duas ou até três safras por ano, enquanto concorrentes internacionais não têm isso", acentua Veronez.
“ESQUECIDOS”
Diante desse cenário, ele acredita que era necessário ter uma atenção maior aos produtores da Amazônia, para poder atingir o potencial esperado. "Temos também muitas dificuldades, é claro, como infraestrutura que ainda não é adequada. De certa forma, os produtores da Amazônia ficaram um pouco esquecidos dos programas de desenvolvimento", avalia.
Para ele, outras alternativas econômicas, como a bioeconomia, ainda não conseguem suprir a demanda da região para a geração de emprego e renda e, por isso, não se pode ignorar o setor agropecuário. "No Acre, por exemplo, não temos vocação turística ou de mineração. Nossa vocação é, eminentemente, agropecuária", reforça. O Estado, que faz fronteira com o Peru, possui hoje 85% da sua floresta nativa preservada e o maior desafio é aumentar a produção agrícola sem ameaçar os recursos naturais.
Veronez se preocupa ainda com o impacto que a atenção internacional tem sobre a região. "Precisamos de desenvolvimento socioeconômico. O que vejo é cada vez menos disposição para aportar recursos nesse sentido e o que assistimos cada vez mais é uma chamada governança global. Todos querendo estabelecer modelos que a gente sabe que na prática não são viáveis", assinala.
DESCONFIANÇA
O senador Plínio Valério (PSDB-AM), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Organizações Não Governamentais (ONGs), também fica desconfiado quando se fala no interesse internacional. "Isso é que o se faz em cada COP: ninguém se prontifica a contribuir; só nos dão tarefas e obrigações. As conferências devem se preocupar com os povos da Amazônia, os verdadeiros protetores da floresta, que não têm renda, não têm incentivo e não têm políticas públicas para viver com dignidade e progredir", diz.
Na CPI das ONGs, Rebelo tem reafirmado o discurso de que a Amazônia convive com três Estados paralelos. Segundo ele, o primeiro é aquele exercido por prefeituras, agências e órgãos do governo, o segundo seria o narcotráfico e o crime organizado, e o das ONGs. O senador também tem feito críticas ao Fundo Amazônia, para que seja atualizado a fim de que os recursos sejam apenas destinados aos órgãos públicos, para que as ONGs não tenham mais acesso. (A.M.)
SAIBA MAIS
Conheça alguns números da Amazônia Legal:
Total de habitantes: 29,5 milhões
Número de Estados: 9 (Pará, Acre, Amazonas, Rondônia, Amapá, Mato Grosso, Roraima, Tocantins e uma parcedo Maranhão)
Extensão territorial: 5 milhões de km²
Áreas protegidas: 45% do território
Cobertura florestal: 75% do território
Vias fluviais: 25 mil quilômetros de rios navegáveis
PIB per capita: R$ 26 mil (em 2020)
FONTES: AMAZÔNIA 2030, CONCERTAÇÃO PELA AMAZÔNIA, MAPBIOMAS E IMAZON