De 10 a 21 de novembro deste ano, Belém receberá o mais importante evento ambiental do mundo, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30. A expectativa é que a cidade receba cerca de 50 mil visitantes, dentre delegações de países, cientistas, setores empresariais, organizações não governamentais, ativistas e representantes da sociedade civil em geral.
Receber tantas pessoas tem exigido uma grande preparação da cidade e do Estado em várias áreas. Obras tomam a capital, desde a construção do espaço que vai sediar o evento, o Parque da Cidade, a edificação ou reforma de hotéis para hospedar os participantes, até intervenções em saneamento, pavimentação e melhorias nos sistemas de mobilidade urbana.
Um dos setores que recebe grande atenção é o turismo. Empreendedores da área se organizam para receber o grande fluxo de visitantes, que também deverá buscar, para além das discussões climáticas, experiências turísticas em plena Amazônia.
ILHA DO COMBU
Uma das empresárias que prepara mudanças para o período da COP 30 é Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, proprietária do empreendimento Casa do Chocolate Filha do Combu, na ilha de mesmo nome, em Belém. Além dos chocolates com cacau produzido na própria ilha, em sistema agroflorestal, ela oferece experiências turísticas gastronômicas e visitas à sua floresta de cacau. Até a Conferência ela pretende ampliar a gama de serviços ofertados.
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“Nós já aumentamos alguns de nossos espaços, não só pela COP, mas também porque já queríamos montar uma cafeteria, que já está em funcionamento. Também montamos um local para receptivos de grupos para experiências de turismo, mas queremos também tentar ofertar pelo menos dois cômodos para alugar. E aumentar um pouco mais o espaço da nossa fábrica e da loja, para poder comportar o fluxo de pessoas, além de criar um espaço para receber as delegações dos países. Inclusive, em 2024 já recebemos representantes de Estados para conhecer nosso espaço e trazer suas delegações”, explica.
O empresário do setor náutico Clayson Chagas também se adapta para o grande número de visitantes que deve receber a ilha do Combu, um grande expoente do turismo de Belém, permitindo o contato com a floresta e a cultura ribeirinha a apenas alguns minutos de barco da parte continental da capital. Chagas não só aumentou a quantidade de embarcações, como também tem apostado em novos modelos de barcos.
“O público esperado para a COP é o que vem dormir na embarcação, então já querem um barco com camarote, estrutura de hotel, com café da manhã, refeição. Estamos adaptando para duas, dez ou até 20 cabines, e já fechando com uma empresa de buffet. Então vai ser o aluguel do barco, turismo, hospedagem completa, serviço de quarto e até o serviço de aluguel de carro junto”, detalha.
Além disso, o empresário investe no preparo da mão de obra da empresa, incentivando a participação em capacitações. “A gente tem que ter um piloto treinado para recepcionar o cliente, saber explicar sobre os furos, pontos turísticos, saber falar inglês. Muitos órgãos, sejam privados ou públicos, estão ofertando esses cursos e a gente leva os pilotos, os guias, os ajudantes de piloto”, conta Chagas.
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PREFEITURA
O secretário executivo para a COP 30 da prefeitura de Belém, André Godinho, acredita que as ilhas de Belém, em especial a do Combu, têm uma vocação natural e grande potencial de crescimento na área do turismo, mas alerta que é preciso um olhar atento para como isso será desenvolvido. “É preciso olhar para os cuidados e formas de implantação dessas operações do ponto de vista de saneamento, de coleta de resíduos, da destinação dos resíduos dos restaurantes que ficam do outro lado do rio, para que haja um respeito, principalmente com as comunidades que já estão lá. É muito positiva essa exploração turística das ilhas, mas a prefeitura vai acompanhar para que a ocupação seja feita de forma sustentável, não apenas ambientalmente, mas também economicamente para quem está lá e ocupa esses espaços”, pondera.
Segundo Godinho, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará terá uma agência na ilha do Combu para capacitações, inclusive para conscientizar sobre o uso responsável das áreas.
Escola Nacional do Turismo promove capacitações
Atualmente, um grande número de iniciativas institucionais, como as do Sebrae Pará, promove qualificação da mão de obra para o setor turístico com vistas à COP 30. E as ações não se restringem a Belém: a expectativa é que outras partes do estado também recebam visitantes, na esteira da vinda a Belém para a Conferência.
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Uma das iniciativas nesse sentido foi a criação da primeira Escola Nacional do Turismo na capital paraense, uma parceria do Ministério do Turismo com o Instituto Federal do Pará (IFPA). Lançada em novembro passado, a escola conta com financiamento do Ministério e execução dos cursos pelo IFPA em quatro cidades polos: Belém, Santarém, Vigia e Bragança.
Cursos como “Gestão de Negócios para o Turismo”, “Educação Ambiental e Sustentabilidade para o turismo”, “Governança para a Hospedagem Familiar”, “Qualidade no atendimento aos turistas nas ilhas”, “Organizador de eventos”, “Camareira”, “Elaborador de roteiros regionais” e “Condutor de Atrativos Turísticos”, além de idiomas como inglês e espanhol, pretendem fortalecer a atividade turística no Estado, não apenas durante a COP 30, mas também potencializando o Pará como destino turístico após o evento.
Até o momento há 1.043 alunos matriculados, em dois ciclos de ofertas de cursos. Até dezembro, serão mais cinco ciclos, com um total de 4,7 mil vagas. O recurso do Ministério do Turismo, de R$ 4,5 milhões a serem recebidos até o fim do ano, se destina à montagem de salas de aula, laboratórios, espaços administrativos, cozinha industrial, além de bolsas mensais de R$ 200 para os alunos participantes como ajuda de custo.
Pautas ambientais orientam as aulas
De acordo com a professora Priscila Farias, coordenadora da Escola Nacional de Turismo no IFPA, a proposta busca a capilaridade das ações. Além das capacitações nas sedes dos quatro municípios polos, já há turmas em Alter do Chão, na Floresta Nacional do Tapajós, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e na comunidade Moruí, no Lago Grande, na região de Santarém. Também já houve turmas em Cotijuba, na ilha do Combu e em Outeiro e há previsão para ofertas em Mosqueiro, em Belém. Serão, ainda, oferecidos cursos de inglês e de condutor de atrativos turísticos para uma comunidade quilombola em Salvaterra.
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“A perspectiva é que a gente tenha pessoas capacitadas com excelência em vários lugares do estado. A expectativa é que isso não pare por aqui, então a tendência é que essas capacitações fiquem cada vez mais enraizadas no Estado”, afirma a coordenadora.
Segundo Priscila, as ementas dos cursos foram construídas com a preocupação com a sustentabilidade. “Há sempre essa reflexão sobre pautas ambientais, como, por exemplo, como organizar um evento mais sustentável, com reaproveitamento de material. Mesmo o curso de camareira pode sensibilizar sobre o desperdício de água, uso consciente de recursos. Os nossos professores já têm sensibilidade à questão ambiental e vão trabalhar isso dentro de cada curso, não importa qual seja. O turismo responsável é, a nosso ver, a grande chave do turismo hoje. E ele envolve não apenas as questões ambientais, mas respeito à cultura, às etnias, à região. Isso tem que ser estimulado para que se saia da ideia do turismo massificado, que destrói e não traz experiência. O turismo responsável proporciona a qualidade da experiência vivida pelo visitante e a preservação de recursos culturais, naturais, ambientais e sociais”, reflete a docente.
Agência do Sebrae atua em quatro eixos
O Sebrae Pará empreende esforços extras na preparação dos pequenos negócios para a COP 30, como na ilha do Combu. Desde o fim de 2023, a instituição criou a Agência Sebrae COP 30, para concentrar, em um mesmo espaço, os trabalhos de apoio para a conferência, em quatro eixos: Hospitalidade, Mobilidade, Alimentos e Bebidas e Economia Criativa.
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Na área de Hospitalidade, o Sebrae investe em capacitações para empreendedores do segmento de hospedagem, um dos mais demandados para a conferência, considerando o déficit de leitos em Belém para receber os 50 mil visitantes previstos. Além daqueles que já trabalham na área, há oportunidades para os que querem se tornar anfitriões por meio do Airbnb, plataforma on-line de aluguel de imóveis ou cômodos por temporada. Uma parceria entre o Sebrae e a Airbnb foi firmada em agosto passado para preparar os donos de imóveis para receber os visitantes. As capacitações são realizadas por embaixadores da própria plataforma.
“Serão 20 cursos ofertados até dezembro de 2025 e 3 mil pessoas capacitadas. Vale ressaltar que, desde o mês de agosto de 2024, quando se iniciaram as ações em parceria com a Airbnb, já foram ofertadas 35 turmas, com 1.815 empreendedores capacitados. Desde que a parceria foi lançada, o número de imóveis paraenses cadastrados na plataforma, que era de 750, passou para cerca de 4.500”, ressalta Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará.
Além das formações relacionadas ao Airbnb, o Sebrae promove outras capacitações no segmento do turismo, como “Atendimento de excelência”, “Língua estrangeira” e “Sustentabilidade no turismo”, todas específicas para Belém. Até o fim de 2024 foram 632 pessoas capacitadas. “Com essas capacitações, nossa intenção é preparar o nosso cliente para bem atender e receber os turistas que chegarão aqui para o evento climático, para que o turista tenha uma excelente experiência, fique um pouco mais e retorne posteriormente”, diz Magno.
O gestor reforça que todas as formações estão de alguma forma ligadas ao turismo sustentável. “De pequenas ações como não utilizar plásticos nas viagens do Tour da Experiência até ações de boas práticas de sustentabilidade, como biodigestores e coleta de lixo seletiva, são incentivadas e destacadas em nossas consultorias. A COP 30 é uma oportunidade ímpar para que os pequenos negócios do Pará tenham consciência da importância da sustentabilidade e que a Amazônia está em especial evidência e tem papel crucial na regulação do clima global”, pontua.
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LEGADO
Marciliane Brígida, dona do Restô da Márcia, na ilha do Combu, é uma das empreendedoras apoiadas pelo Sebrae. A parceria já existe há dez anos, mas se intensificou no período pré-COP. “Ajudaram a colocar aqui a horta hidropônica, a fazer o cardápio em inglês, espanhol e português e com a capacitação dos funcionários, que já tiveram cursos de manipulação de alimentos, atendimento ao público, hospitalidade e agora vão fazer de inglês”, conta.
Para Marciliane, as oportunidades geradas pela COP 30 serão duradouras. “São onze dias de COP, mas o Sebrae está oportunizando que a gente fique para sempre com essa experiência, de fazer um atendimento de excelência. Vai ser algo para a vida toda”.
PARCERIA INSTITUCIONAL
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