A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) é aguardada pelo setor produtivo da Amazônia e vista como uma oportunidade de ampliar as discussões sobre as técnicas de cultivo que estão sendo desenvolvidas para promover avanços no bioma. O evento será realizado em Belém, capital do Pará – um dos principais estados da região – e é considerado o maior encontro sobre o tema do mundo, reunindo centenas de chefes de estado e ativistas em prol da causa.
Para além dessa ampliação de debates aguardada, representantes do agronegócio local estão na expectativa de que haja o reconhecimento dos esforços em preservar a floresta e, com isso, a valorização dos produtos que têm a Amazônia como origem. O objetivo do setor é mostrar que a melhor forma de evitar o desmatamento é por meio do combate às ilegalidades, uma vez que as regras ambientais existentes, para os que trabalham de acordo com a lei, já garantem que a região não vá sofrer tantos impactos.
Limitações
As oportunidades que o evento trará também servirão, do ponto de vista dos produtores da Amazônia, para acabar com limitações impostas pelo mercado externo. Em 2023, uma nova legislação aprovada pelo Parlamento Europeu passou a exigir que produtos importados pelo bloco econômico tenham uma série de comprovações de que não houve desmatamento. Entre as mercadorias estão o gado, o cacau e a madeira, alguns dos principais ativos que compõem a economia do bioma.
Produtos feitos a partir dessas matérias-primas também entraram na lista. Segundo Fernão Zancaner, presidente do Sindicato Rural de Ulianópolis, cidade localizada no Sul do Pará, a COP 30 deverá mostrar que iniciativas como essa, de barrar os produtos locais, são uma falsa impressão de proteção do bioma. “O que tem que se fazer é valorizar a produção agrícola da Amazônia, porque ela é muito sustentável. Temos obrigações de preservação de florestas e o combate ao desmatamento”, afirma.
“O que acho que vai ser importante dessa COP acontecer na Amazônia é que muito que se fala dos movimentos de produção dentro do bioma, se fala sem conhecimento. Quem fala, não conhece a Amazônia, não sabe como é feita a produção na Amazônia e não conhece a realidade econômica e social daqui. O fato de a COP ser realizada aqui vai facilitar com que a gente mostre os nossos desafios e potencialidades. O estado do Pará tem, hoje, uma reserva florestal gigantesca e grande parte disso é mantido pela atividade agropecuária”, diz Fernão.
Discussões precisam se dar à luz de embasamentos técnicos
Todos os debates sobre a produção amazônica que serão levados para a Conferência devem ser feitos com base em argumentos técnicos, diz o presidente do Sindicato Rural de Ulianópolis. “Temos que pegar a base e demonstrar, de forma técnica, como a nossa produção é sustentável; e demonstrar, também, a necessidade que a população da Amazônia tem do desenvolvimento econômico. Não existe preservação ambiental sem as mínimas condições de desenvolvimento da população”, enfatiza Fernão Zancaner.
“O que precisamos mostrar é que precisamos desenvolver, crescer, precisamos gerar emprego, renda e precisamos preservar e a gente precisa que venham aqui. Talvez seja uma oportunidade para eles olharem o que estamos fazendo, conseguirem enxergar todas as potencialidades que a região tem de desenvolvimento para que, assim, eles possam valorizar os nossos produtos e não criar restrições”,
Preparação
É nesse sentido que algumas entidades ligadas aos setores produtivos da Amazônia, como a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e associações comerciais, foram convocadas para uma conferência que antecede a COP 30. O encontro, que ainda não tem confirmação de data, foi proposto pelo secretário municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Aldo Rebelo, durante um encontro ruralista promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa).
“A conferência é de brasileiros, para propor que, além da agenda do clima, tenha uma agenda do desenvolvimento. Se não tiver, é um ataque à dignidade da população do Pará e à população brasileira. Como você vai aceitar que só se trate de uma agenda [climática, no caso] e que os direitos da população da Amazônia e dos brasileiros que ali vivem e trabalham há séculos não estejam contemplados?”, questionou Rebelo durante uma palestra para dezenas de produtores rurais.
Potencialidades do Pará precisam ser expostas
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, acredita que a COP 30 e todos os olhares que estarão no evento serão fundamentais para que as potencialidades do Pará sejam expostas. Com isso, uma transformação na sociedade é esperada. “O Pará tem potencial para ser o primeiro estado do Brasil [em termos econômicos]. A transformação da sociedade passa pela produção. Temos que esquecer essa história de Bolsa Família e Seguro Defeso. Temos que produzir”, ressalta.
“Estamos juntando os paraenses no sentido de poder, àqueles que virão para a COP 30 ano que vem, mostrar o que é o Pará, o que é a Amazônia, que temos aqui a legislação mais dura do mundo… De junho de 2008 para cá, só podemos utilizar 20% da propriedade que paguei 100%. Temos uma lei que determina que nós, paraenses, só podemos utilizar, para a atividade econômica, até 35% do nosso território. Mas eles, lá de fora, não nos veem com essa condição. Portanto, estamos nos preparando para falarmos que estamos produzindo e respeitando o meio ambiente”, completa Xavier.
Remuneração
Um dos assuntos que devem ser levados pela Faepa para o encontro proposto por Aldo Rebelo é a remuneração para quem segue a lei e mantém a floresta em pé. “Gostaríamos muito de fazer essa transformação na nossa sociedade, que nós deixássemos de ter os menores Índices de Desenvolvimento Humano. Não queremos desmatar, mas queremos ser remunerados por manter em pé a nossa floresta, vamos discutir e nos juntar com esse objetivo de atrair recursos e provocar nosso desenvolvimento”, finaliza.
Indústria espera discutir novo modelo econômico
Para o setor industrial, a discussão de um novo modelo econômico que inclua componentes sociais e ambientais com equilíbrio é o esperado. Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), afirma que há incentivo a iniciativas que sejam voltadas à essa pauta – servindo como atração de negócios – e àquelas que desejam se adequar. “As atividades tradicionais, digamos assim, que já vêm buscando uma aderência ao ESG [governança ambiental, social e corporativa, em português], também não medimos esforços para fortalecer.”
O objetivo desses debates é mostrar não apenas as dificuldades, mas as oportunidades que existem no território e promover o entendimento da Amazônia por meio da biodiversidade. “Esses modelos não são excludentes, são inclusivos e, através da inclusão, nós vamos otimizar as nossas vocações, ampliá-las ao máximo e fazer com que tenhamos uma nova era, com um novo rumo, com mais sustentabilidade, com mais geração de emprego, geração de renda e preservação ambiental”, destaca.
Jornada COP+
Uma das iniciativas de preparo da indústria para que todas as demandas sejam bem organizadas para a Conferência é a Jornada COP+. A iniciativa da Fiepa, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), agrega troca de ideias, experiências, atração de novos pensamentos e investidores, tudo em união e interação com saberes locais e tradicionais. “Temos insistido na importância de uma infraestrutura logística adequada e racional que possa trazer melhor fluidez”, diz Carvalho.
Com isso, o deslocamento de produtos do estado não é a única parte visada dentro dos debates da Jornada, mas também o incremento de um ganho social. “As pessoas que ainda passam por dificuldades extremas de percorrer distâncias que em outros centros mais desenvolvidos não se percebe, sob um aspecto social e sob um aspecto de competitividade, de ganho de competitividade industrial, nós insistimos na importância de termos dentro do nosso Estado uma infraestrutura logística”, afirma o presidente da Fiepa.
“Fomos convidados a participar de uma reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI e o convite foi para falar da trilha que nos levará até a COP 30. Essa trilha passa pelo Azerbaijão este ano [na COP 29]. Agora, neste ano, pretendemos ter uma participação ainda maior, já levando cases de indústrias locais que têm servido de boas práticas e indutoras de outras”, conclui Alex.