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OPINIÃO

A vitória do presidente Lula é uma vitória para a Amazônia e para a humanidade

Ecóloga, co-fundadora da Rede Amazônia Sustentável (RAS), professora da pós-graduação na Universidade Federal do Pará, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e membro do Painel Científico para a Amazônia.

Joice Ferreira

05/11/2022

As eleições presidenciais brasileiras foram acompanhadas de perto pelo mundo todo. Ainda na véspera do segundo turno, editoriais de revistas internacionais importantes como Nature, Science e The New York Times (NYT) se posicionaram em favor do candidato Lula.

Para a revista Nature, haveria “apenas uma escolha nas eleições do Brasil - para o país e para o mundo”, já que um segundo mandato de Bolsonaro representaria uma ameaça para a ciência, a democracia e o ambiente. Para a Science, um segundo mandato de Bolsonaro iria corroer ainda mais a pesquisa científica e acelerar o desmatamento na Amazônia. O NYT pontuou que o vencedor herdaria o controle sobre mais de metade da floresta tropical amazônica e, por conseguinte, determinaria as condições para a vida futura na Terra.

A condução catastrófica de Jair Bolsonaro sobre a conservação dos ambientes brasileiros é bem conhecida por todos que acompanham o assunto. Durante o seu mandato, as taxas de desmatamento na Amazônia aumentaram mais de 70%, enquanto as queimadas se intensificaram mesmo quando as condições climáticas não as favoreciam. Esse tipo de desfecho resultou de uma visão de mundo que nega as mudanças climáticas e a importância do meio ambiente equilibrado. Descaso com as Unidades de Conservação, Terras Indígenas e seus povos, falta de punição aos crimes ambientais e tolerância às atividades ilegais como garimpos e exploração de madeira foram constantes.

Por outro lado, o governo Lula promoveu um sucesso sem precedentes na proteção da Amazônia. No período 2003-2010, houve redução global de cerca de 80% dos desmatamentos na região. Ao assumir o pleito, os desmatamentos atingiam cerca de 27 mil Km2 e foram reduzidos para o patamar de 7 mil Km2, ao fim do seu segundo mandato. O esforço concentrado na proteção da Amazônia, por meio de uma política interministerial estruturada e cooperação internacional, permitiu tal sucesso quando parecia uma realidade impensada, naquele momento. Com isso, podemos dizer que os níveis de desmatamento àquela época chegaram a níveis aceitáveis? Certamente não, precisava ser reduzido ainda mais. Podemos afirmar que a política ambiental do governo Lula era perfeita? Certamente, não, havia muitos pontos a melhorar nas questões socioambientais. Mas, havia intenção de acertar, muito diálogo e colaboração permitindo que instituições, como o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), realizassem o trabalho necessário. No governo Bolsonaro, o papel dessas instituições e seus dirigentes foram constantemente diminuídos e atacados.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito no domingo (30.10), Lula reafirmou, de forma contundente, seu compromisso com a agenda ambiental do país. Disse que o Brasil está pronto para retomar seu protagonismo na luta contra a crise climática, a proteção dos seus biomas, sobretudo, a Floresta Amazônica. Declarou que seu governo vai lutar pelo desmatamento zero na Amazônia. Assumiu o compromisso de retomar o monitoramento e vigilância na região e combater toda e qualquer atividade ilegal. Disse ainda que estará aberto à cooperação internacional para a sua preservação.

Em 31 de outubro, apenas um dia após a vitória de Lula, o Ministro de Meio Ambiente Norueguês anunciou que irá retomar o apoio financeiro ao governo brasileiro para o combate ao desmatamento. A contribuição desse país ao Fundo Amazônia havia sido suspensa durante o governo de Bolsonaro, que nunca valorizou as cooperações internacionais. Muitos líderes mundiais felicitaram prontamente o recém-eleito presidente Lula, ressaltando principalmente a liderança ambiental do país e o papel da Amazônia na luta contra as mudanças climáticas. Reconquistar a chance de conservar a Amazônia - maior floresta tropical do mundo - é uma vitória não apenas para o Brasil, mas para toda a humanidade.