Em 2024, um dos periódicos científicos brasileiros mais longevos ainda em circulação, nascido na Amazônia, completa 130 anos: o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Esse marco celebra não apenas a longevidade de uma publicação, mas também a persistência e a relevância de um veículo que molda e divulga conhecimentos fundamentais sobre uma das regiões mais biodiversas e culturalmente ricas do planeta.
O Boletim foi fundado em 1894, com o nome "Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia". Desde o início, sob a liderança do diretor Emílio Goeldi, ele se estabeleceu como uma referência na disseminação do conhecimento científico. O objetivo era claro: promover um intercâmbio de experiências e saberes entre os pesquisadores que exploravam a vasta e pouco conhecida região amazônica e o restante do mundo.
Ao longo de sua história, o Boletim passou por diversas transformações, refletindo as mudanças e avanços na ciência e na sociedade. Inicialmente, a publicação era dividida em partes administrativa e científica, mas, com o tempo, adaptou-se a um formato mais especializado e temático, incluindo séries como Antropologia, Zoologia, Botânica e Geologia. Essas mudanças foram essenciais para manter o boletim atualizado com as exigências acadêmicas e de divulgação científica.

O impacto do Boletim na ciência é inegável. Durante seus primeiros anos, entre 1894 e 1914, sob a gestão de Emílio Goeldi e Jacques Huber, a publicação ganhou destaque internacional, divulgando informações valiosas sobre a biodiversidade e a etnografia da Amazônia. Mesmo enfrentando períodos de interrupção, especialmente entre 1933 e 1956, a publicação ressurgiu com força, adaptando-se às novas realidades e continuando a ser uma fonte de referência para pesquisadores de todo o mundo.
A partir de 1957, o Boletim entrou em uma nova fase de reorganização e expansão. Foram introduzidas publicações avulsas e criadas novas séries temáticas, o que ampliou significativamente o alcance e a profundidade das pesquisas divulgadas.
Na fase mais recente, iniciada em 2005, o Boletim passou a circular em duas séries: Ciências Humanas e Ciências Naturais. Desde 2016, a publicação se modernizou ainda mais, adotando um formato exclusivamente digital que facilita o acesso global às suas edições. Com uma diversificação geográfica e institucional dos autores, o Boletim passou a ser indexado em importantes bases de dados científicas, consolidando sua presença e relevância no cenário acadêmico internacional.
Com 130 anos de história, o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi não é apenas um registro de descobertas científicas, mas um testemunho da evolução do conhecimento e da resiliência de uma instituição comprometida com a divulgação científica. Sua trajetória se confunde com a própria história do Museu Goeldi e com os avanços da ciência na Amazônia, refletindo as transformações políticas, sociais e científicas que marcaram o século XX e continuam a influenciar o século XXI.
Hoje, em um mundo cada vez mais digital e interconectado, o Boletim permanece como um elo vital entre a ciência e a sociedade, destacando-se como um símbolo de persistência e inovação. Que venham mais 130 anos de descobertas e contribuições inestimáveis para o conhecimento da Amazônia e do mundo.
Rodrigo Paiva – Bibliotecário, Doutorando em Ciências da Comunicação e Chefe do Serviço de Biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi