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OPINIÃO

Amazônia: a floresta é a solução

Ecóloga, co-fundadora da Rede Amazônia Sustentável (RAS), professora da pós-graduação na Universidade Federal do Pará, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e membro do Painel Científico para a Amazônia.

Joice Ferreira

29/07/2022

Vivemos duas grandes crises planetárias – as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, ambas com consequências decisivas para a continuidade da vida humana na Terra. A Amazônia tem um papel crucial para a solução das duas crises. Na raiz das mudanças climáticas está o excesso de gases de efeito estufa na atmosfera decorrentes das atividades humanas, particularmente o carbono. A Floresta Amazônica – maior área de floresta tropical remanescente do planeta - concentra o maior repositório de carbono acima do solo e também uma das áreas mais ricas em biodiversidade. Em contrapartida, a perda e a degradação dessas florestas têm implicações amplas, com consequências desastrosas para a humanidade. 

Todo brasileiro, e especialmente todo amazônida, deveria conhecer e ter como princípio zelar por esse patrimônio único. De fato, algumas pesquisas de opinião recentes dão pistas de que a Amazônia tenha um valor especial a grande parte dos cidadãos país afora. Entretanto, até o presente, parece existir uma lacuna entre o pensar e o agir para conservá-la. Infelizmente, as taxas de perda anual de floresta ainda são muito altas. Soma-se aos desmatamentos, o empobrecimento dos ecossistemas pelos incêndios, fragmentação de florestas e corpos hídricos, exploração de madeira, garimpos, caça e pesca ilegais - atividades muitas vezes cercadas por violência.

A ciência tem sido fundamental para o avanço do conhecimento sobre a Amazônia nas últimas décadas, a despeito dos investimentos ínfimos que recebe e que são incompatíveis com o que a região merece. Graças ao trabalho incansável de muitas instituições de pesquisa e de parcerias entre regiões e países, vem se revelando de forma crescente o significado dos ecossistemas amazônicos para o bem-estar humano. Desde o seu papel para o clima, do nível regional ao global, às interações com a diversidade de formas de vida, ambos com implicações para a saúde, a segurança alimentar e o bem-estar humano de forma geral. As consequências da perda e da degradação dos ecossistemas, incluindo-se um possível ponto de ruptura sem volta, vêm sendo reveladas. Entretanto, soluções para contornar tais problemas vêm sendo apresentadas também, como sistemas de monitoramento, alternativas de manejo e produção agrícola ou florestal mais sustentáveis e inovação para o uso de bioprodutos compatíveis com a conservação dos ecossistemas.

Estamos numa encruzilhada. Ainda podemos decidir entre seguir o curso de desenvolvimento da atualidade, ou mudar completamente a trajetória para um futuro mais próspero. Essa nova rota pressupõe sobretudo reconhecer o papel central das florestas para a nossa sobrevivência, tomar decisões de infraestrutura e uso da terra compatíveis com esse princípio, além de respeitar e apoiar os povos tradicionais e comunidades locais cujos modos de vida nos desviam da rota das crises globais. 

 

 

*Este artigo foi escrito para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.