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CONFERÊNCIA DO CLIMA

COP 30 terá megaoperações de saúde e segurança

BELEM - Planejamento foi aprovado pela ONU. Equipes envolvidas passaram por treinamentos, simulando vários cenários possíveis

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal

01/11/2025

Grandes eventos, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas ou uma Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) exigem um enorme esforço de preparação e planejamento, em áreas como infraestrutura, logística, mobilidade e hospedagem.


Sobre a COP 30, que será realizada em alguns dias em Belém, muito se falou sobre hospedagem: a possível falta inicial de leitos para receber os cerca de 50 mil visitantes esperados, e a cobrança de preços exorbitantes pelas diárias. Muito se comentou, também, sobre a infraestrutura construída em torno do evento, seja o espaço que vai sediá-lo, o Parque da Cidade; sejam os novos espaços turísticos e de lazer; ou as construções para melhorar o trânsito na região metropolitana.


Mas em relação à assistência à saúde e segurança pública, como a cidade se preparou? De acordo com órgãos das áreas, megaoperações vêm sendo planejadas há dois anos, desde que Belém foi confirmada como sede da Conferência.

 

SEGURANÇA

 

Ualame Machado, titular da Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social (Segup), explica que existe um Plano Integrado de Segurança para a COP 30, que inclui não apenas as forças estaduais, mas também as federais e municipais. O secretário, que é, originalmente, delegado da Polícia Federal, já trabalhou em grandes eventos no País, como Copa do Mundo, Pan-Americano, Jornada Mundial da Juventude e Olimpíadas. Para ele, esses acontecimentos deram ao Brasil um grande know-how na preparação da segurança.


“Há uma política e uma estratégia muito bem montadas, muito bem azeitadas entre os órgãos envolvidos. Temos o que chamamos de matriz de responsabilidades: uma planilha com todas as atividades necessárias para o período de um grande evento, que define quais órgãos são responsáveis por cada ação”, explica. 


A matriz foi construída junto com o governo federal, que é oficialmente quem sedia a COP 30. “É o Brasil que recebe o evento, e Belém foi escolhida como a cidade-sede. Mas a responsabilidade é do governo brasileiro. Então, a matriz foi construída por várias mãos. Há responsabilidades de órgãos federais, como a segurança de chefes de estado, contra-terrorismo e outras situações. E os órgãos estaduais entram como suporte a tudo isso, com policiamento, monitoramento e manutenção da ordem pública, assim como os órgãos municipais de mobilidade e segurança”, esclarece. O planejamento de segurança foi aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que promove a COP.

 

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Ualame Machado, titular da Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social (Segup), explica que existe um Plano Integrado de Segurança para a COP 30, que inclui não apenas as forças estaduais, mas também as federais e municipais. O planejamento foi aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que promove a COP (Foto: Carmem Helena/O Liberal)

ESTRUTURA

 

Machado informa que cerca de 10 mil agentes das forças estaduais estarão envolvidos na operação, dentre membros das polícias Militar, Civil, Penal, Científica, além de Bombeiros e servidores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Serão empregadas mais de 700 viaturas, além de embarcações e veículos aéreos. “Isso se refere apenas às forças estaduais, fora os agentes municipais, as Forças Armadas, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal”, diz o secretário.


Além do Centro Integrado de Comando e Controle (Cicc) fixo da Segup, localizado na avenida Almirante Barroso e responsável pelo monitoramento das câmeras de segurança e otimização do tempo de resposta em caso de ocorrências, será instalado um Cicc móvel, baseado em frente ao Hangar. A Base Fluvial Integrada da Segurança Pública Baixo Tocantins, que será em breve instalada no município de Abaetetuba, ficará temporariamente fixada no porto de Outeiro, dando apoio à área que terá navios que servirão para hospedagens.


Quanto ao acionamento dos serviços de emergência, quem fizer uma ligação pedindo ajuda poderá discar não apenas os números locais, como o 192 do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o 190 da Polícia Civil ou 193 dos Bombeiros, mas também os números que conhecem em seus países de origem, como o 911 de emergência dos Estados Unidos e do Canadá e o 112 da União Europeia. O atendimento será trilíngue: em português, inglês e espanhol.

 

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As forças estaduais participaram, de forma integrada a forças federais e municipais, do treinamento de escolta para autoridades durante a Cúpula dos Líderes (Foto: Alex Ribeiro/Agência Pará)

Agentes de segurança foram treinados

 

De acordo com Ualame Machado, as forças de segurança realizaram vários treinamentos específicos em preparação para a Conferência. “Por exemplo, não é uma rotina, no Brasil, trabalhar tão fortemente a questão do terrorismo, porque não é um problema que o País costuma enfrentar. Mas a gente sabe que os chefes de Estado de outros países enfrentam, e era uma preocupação nossa estarmos preparados para isso. Somente nos últimos tempos, a Polícia Militar teve seis treinamentos específicos sobre apoderamento ilícito de aeronave, antibomba, terrorismo, cibersegurança”, relata.


As forças estaduais também participaram, de forma integrada a forças federais e municipais, do treinamento de escolta para autoridades durante a Cúpula dos Líderes, que ocorrerá nos próximos dias 6 e 7.  “Pela legislação brasileira, quem faz segurança de chefes de Estado estrangeiros é a Polícia Federal. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) faz escolta dos comboios, nos deslocamentos, e a Polícia Federal cuida da segurança aproximada dessa autoridade. Já a segurança pública do Estado cuida das demais situações do policiamento ordinário, de manutenção da ordem”, explica Machado.


Cerca de 200 agentes de segurança e de trânsito, das diversas esferas, participaram do treinamento em campo, enquanto outros agentes monitoravam, em tempo real, os deslocamentos na Central de Escolta, coordenada pela PRF e composta ainda por agentes do Detran, da Polícia Militar e da Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém (Segbel). 


De acordo com Salim Junes, assessor de Comunicação da PRF, o órgão mobiliza mais de 900 policiais rodoviários federais para a COP 30. Dentre eles, 400 motociclistas, que atuarão diretamente nas escoltas. “Durante a Cúpula dos Líderes, estima-se a movimentação de aproximadamente 70 comboios, configurando a maior operação de escolta já realizada pelo órgão”, ressalta Junes.

 

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O Comando Conjunto Operacional Marajoara, uma estrutura temporária que envolve as três Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica - realizou treinamentos em contraterrorismo, defesa química, biológica, radiológica, nuclear e cibernética (Foto: Ascom/Comando Marajoara)

GLO

 

Todo o percurso previsto para o deslocamento das autoridades conta com câmeras de segurança instaladas, monitoradas pelo Cicc da Segup. “Durante a Cúpula dos Líderes, o nosso Cicc ficará sob responsabilidade da Polícia Federal, para que ela possa coordenar esse trabalho. Já no período da COP, de 10 a 21 de novembro, a Polícia Federal reduz um pouco o seu efetivo, porque muitos chefes de Estado já não estarão aqui. A partir daí, é muito mais policiamento das ruas e garantia da ordem pública. É uma tarefa ainda maior dos órgãos de segurança do Estado, em colaboração com as forças militares. Porque, em todos os grandes eventos no Brasil, sem exceção, é decretada a Garantia de Lei e Ordem (GLO), que autoriza as Forças Armadas a auxiliarem nas ações de segurança”, completa Machado.

Forças Armadas formam o Conjunto Marajoara

 

O Ministério da Defesa criou, em maio, uma operação específica para o período da COP 30, o Comando Conjunto Operacional Marajoara. É uma estrutura temporária, que envolve as três Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica.


De acordo com o general de Exército José Ricardo Vendramin, comandante Militar do Norte e das operações do Conjunto Marajoara, as três Forças contarão com militares não apenas do Pará, mas de outras partes do Brasil. “Nós temos uma força-tarefa conjunta de operações especializadas em contraterrorismo, defesa química, biológica, radiológica, nuclear, cibernética”, informa o general. 


O comandante afirma que a expectativa é que a Garantia de Lei e Ordem (GLO) seja decretada a partir do início de novembro e siga até um período após a COP. “Isso nos dará a condição legal de atuação. São dois vieses principais: um é apoio à segurança pública e o outro é proteção de infraestrutura estratégica. Vamos proteger as usinas de Tucuruí e Belo Monte. E, em Belém, vamos resguardar a Estação de Energia do Guamá, a Estação Elevatória de Água do Guamá e a Estação de Tratamento de Água do Bolonha. Também faremos a proteção cibernética, porque ataques dessa natureza podem trazer a disrupção do controle de uma grande infraestrutura, como uma usina”, destaca. 

 

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Militares do Comando Marajoara vão atuar em cooperação com as demais forças de segurança federais, estaduais e municipais (Foto: Ascom/Comando Marajoara)


Além disso, os militares vão atuar em cooperação com as demais forças de segurança federais, estaduais e municipais. “Vamos ter tropas do Exército em torno da Blue Zone e da Green Zone, no Parque da Cidade, e tropas da Marinha em Outeiro, onde os transatlânticos vão aportar”, exemplifica o general.


O efetivo total mobilizado pelas Forças Armadas será de 7.276 militares diretamente envolvidos. Serão utilizados 19 veículos blindados, 30 embarcações, 13 navios e três aeronaves.

Sespa se prepara há dois anos para o evento

 

Assim como na área de segurança, a área da saúde pública também construiu um Plano Estadual para a COP 30, igualmente aprovado pela ONU. De acordo com Heloísa Guimarães, secretária adjunta de Gestão de Políticas de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), o plano foi construído durante dois anos, baseado em protocolos internacionais específicos para eventos de massa. 

 

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Assim como na área de segurança, a área da saúde realizou vários treinamentos, com simulações de possíveis situações envolvendo múltiplas vítimas (Foto: Bruno Cecim/Agência Pará)


Para apoio à saúde dos visitantes, foram definidos 14 hospitais de referência, dentre privados, filantrópicos e da rede estadual, além das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) municipais. As unidades estaduais escolhidas foram o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, Hospital da Mulher e Hospitais Jean Bitar, Metropolitano de Urgência e Emergência, Abelardo Santos, Santa Casa e de Pronto Socorro Dr. Roberto Macedo. 


“Nesses locais, nós fizemos mutirões de atendimentos, em 2024 e 2025, trabalhando com 30% a mais de produtividade, para poder reduzir o número de consultas durante o período da COP. Dessa forma, os hospitais estarão mais tranquilos para eventualmente receber os turistas”, esclarece a secretária.

SIMULAÇÕES

 

Assim como na área de segurança, a área da saúde realizou vários treinamentos, com simulações de possíveis situações. “Treinamos a equipe do Hospital Metropolitano, que será a referência para eventos com múltiplas vítimas. Se houver uma explosão, um desabamento, um acidente com ônibus, todos serão levados para lá. Também simulamos situações de crise em áreas externas, treinando resgate, classificação de risco, atendimentos, transporte, até a atuação do Instituto Médico Legal. Esse treinamento envolveu a Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde), Bombeiros, Defesa Civil, Exército. Tivemos também um outro treinamento mais específico para acidentes biológicos, químicos e radiológicos, simulando atentados. Tudo para que o tempo de resposta seja o menor possível”, conta Heloísa.

 

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O plano de saúde foi construído durante dois anos, baseado em protocolos internacionais específicos para eventos de massa (Foto: Alexandre Costa/Agência Pará)

POSTOS

 

Os atendimentos em saúde também serão garantidos no Parque da Cidade. Haverá quatro grandes postos de atendimento médico temporários para os congressistas, cada um com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, sala de triagem, poltronas de observação e uma sala vermelha de urgência e emergência. Além disso, haverá cinco equipes volantes, com um médico e um enfermeiro, que percorrerão os espaços com uma mochila de primeiros-socorros. A equipe envolvida será de servidores da Sespa, bem como da Força Nacional do SUS, de Brasília.

 

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Os atendimentos em saúde também serão garantidos no Parque da Cidade. Haverá quatro grandes postos de atendimento médico temporários para os congressistas. "“Isso tudo ajudará a evitar congestionamento nos hospitais. Isso exigiu muito tempo de preparação. O protocolo que usamos foi milimetricamente respeitado. Estamos bem preparados”, garante Heloísa Guimarães, da Sespa (Foto: Carmem Helena/O Liberal)


Além disso, serão instalados postos de atendimentos na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde ficarão hospedados cerca de 3 mil indígenas, e na UFPA, que receberá a Cúpula dos Povos, com a previsão diária de cerca de 15 mil participantes. “Isso tudo ajudará a evitar congestionamento nos hospitais. Isso exigiu muito tempo de preparação. Toda a equipe da Sespa vem se planejando há dois anos para isso. O protocolo que usamos foi milimetricamente respeitado nessa construção. Estamos bem preparados”, garante a gestora.
 

 

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