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OPINIÃO

Torço pelas Copas das Árvores - a biodiversidade entre COPs e copas do mundo

Agrônoma, com doutorado em Ecologia pela University of Stirling (UK). Estuda a ecologia da Floresta Amazônica. Pesquisadora titular e ex-diretora do Museu Goeldi. Conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC

Ima Vieira

09/12/2022

No bioma Amazônia estão mais da metade das florestas tropicais remanescentes do mundo. Estudos sistemáticos sobre essa região se intensificaram com a criação do Museu Paraense Emilio Goeldi, em 1866, do Instituto Agronômico do Norte (hoje Embrapa), em 1939, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em 1952. Essas instituições amazônicas deram início a um ciclo de conhecimento ecológico ordenado e em grande volume sobre a região e que foi a base para as descobertas recentes sobre o funcionamento da maior floresta tropical do mundo, onde as árvores cumprem um papel-chave.

Mas, até recentemente, os cientistas ainda não sabiam quantas árvores, quantas espécies e quais os territórios que elas se concentram na Amazônia.  O artigo “Hyperdominance in the Amazonian Tree Flora”, de 2013, tenta responder a essas questões e estimou em 16 mil o número de espécies de árvores e em 390 bilhões o número de árvores com diâmetro mínimo do tronco (DAP) de 10 cm existentes na Amazônia, apontando ainda que apenas 227 são hiperdominantes, com mais da metade dos 390 bilhões de indivíduos.

Os pesquisadores do Museu Goeldi e do INPA também trouxeram descobertas essenciais sobre a importância dos povos originários na diversificação da floresta amazônica. Estudos sobre manejo, sustentabilidade e diversificação das florestas produzidos por A. Anderson, W. Ballée, D. Posey e C. Clement, ligaram conservação com desenvolvimento, e serviram de base tanto para a criação das reservas extrativistas, quanto para a discussão sobre repartição de benefícios provenientes da exploração econômica da sociobiodiversidade amazônica. Em escala global, dos sete produtos tropicais mais importantes em termos de volume (café, tabaco, algodão, açúcar, borracha, chá e cacau), três são plantas originárias da Amazônia. Esta região é considerada centro de origem de algumas das principais plantas da humanidade e ao longo do processo histórico de domesticação houve a construção de paisagens domesticadas como os castanhais e açaizais.

É consenso na comunidade científica que a Amazônia é chave na conservação da biodiversidade e na regulação do clima do planeta, tornando relevante entender o funcionamento e a dinâmica desse sistema, e de construir estratégias de desenvolvimento da região que sejam inclusivas, democráticas e sustentáveis. O Brasil já mostrou que é possível compreender a região e conter a destruição da Amazônia mediante instituições fortes, políticas públicas transversais baseadas na ciência e no fortalecimento dos órgãos de fiscalização. Mas, o que fazer para proteger a biodiversidade?

A COP15 da Convenção da Biodiversidade (CDB), que acontece em Montreal, neste mês, vai se concentrar na finalização do Marco Global da Biodiversidade Pós-2020. Desde 2002, os membros da CDB se comprometeram a reduzir a taxa de perda de biodiversidade e aprimorar metas e indicadores sobre uso e repartição dos benefícios oriundos da biodiversidade, mas falharam. Apenas duas das 22 metas globais propostas foram alcançadas. Para um “Acordo de Montreal”, é necessário avanços políticos em torno de um novo pacto capaz de frear a perda de espécies.

Com o avanço do desflorestamento na Amazônia e o agravamento de risco para a biodiversidade, aumenta a responsabilidade dos participantes em Montreal. O futuro da diversidade biológica do planeta está em jogo. Entre COPs e Copas do mundo, eu torço pelas copas das árvores!