Em uma tarde de setembro do ano passado, enquanto concedia uma entrevista a um jornalista internacional, em um parque ambiental em Belém, fui surpreendida com a sua pergunta se eu tinha esperança sobre o futuro da Amazônia. Logo respondi que eu não tinha alternativa a não ser acreditar em um futuro mais próspero para essa região. O tema da esperança me vem à tona novamente hoje por causa de um trabalho realizado por um grupo de pesquisa no qual me incluo. Os resultados deste trabalho estão resumidos no artigo intitulado “Buscando iniciativas inovadoras de sustentabilidade na Amazônia” (título original em inglês) na revista científica Sustainability.
Neste trabalho, a busca consistiu em dialogar com atores-chave que atuam em diferentes estados da região amazônica visando a encontrar experiências bem-sucedidas de sustentabilidade. Eles foram convidados a compartilhar sua percepção sobre o que está se produzindo de novo rumo a uma Amazônia mais sustentável. Entendemos que a palavra sustentabilidade é muitas vezes vazia de significado, mas, além de acolher o conceito do entrevistado, nos referíamos ao que está ocorrendo por um futuro ambientalmente mais amigável, mais equitativo e justo socialmente.
O estudo nos revelou mais de 150 iniciativas em curso na Amazônia, das quais 50 foram descritas com mais detalhe. Obviamente, há muitas outras iniciativas em andamento, conforme antecipado por pesquisas anteriores a essa. O mais importante foi constatar que existe uma ampla gama de iniciativas para a sustentabilidade, as quais agrupamos em sete categorias principais que variaram desde oportunidades de negócios verdes, proteção territorial, a coalizões multi-institucionais, que buscam lidar com a complexidade de problemas e oportunidades para a região. Estas envolvem, por exemplo, incubadoras de negócios ligados à bioeconomia, promoção de conexão entre diferentes atores, engajamento de jovens e mulheres, plataformas e aplicativos para rastrear a exportação de commodities, como soja e carne bovina, fundos de investimento privados, associações indígenas para proteção do próprio território e campanhas ativistas por meio de redes sociais. Estas iniciativas têm sido promovidas por ONGs, governos, comunidades rurais, movimentos sociais e até mesmo indivíduos.
Podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio. De um lado, pudemos constatar a diversidade de iniciativas percebidas como inovadoras, as quais têm se proliferado em um período crítico de aumento da degradação ambiental, da desigualdade e violência. De outro, pudemos apreender que há limitações importantes para que elas atinjam a escala necessária para uma verdadeira transformação na região. A maioria promove mudanças apenas incrementais, que, apesar de importantes, não são capazes de desafiar o status quo e eliminar as assimetrias de poder e desigualdades sociais que são absolutamente necessárias na atualidade.
Uma visão mais otimista é possível se considerarmos tais experiências como “Sementes”, conforme o enquadramento teórico definido por alguns estudiosos. Basicamente, as “Sementes” são iniciativas – por exemplo, sociais, tecnológicas ou econômicas – que ainda não são dominantes ou proeminentes na sociedade, mas que guardam a capacidade de inspirar, serem proliferadas e gerarem transformação social.
Um futuro mais sustentável na Amazônia será possível se sementes de inovação, tais quais essas que mapeamos, forem amplamente dispersadas, especialmente por meio de políticas públicas. Nesse futuro, não cabe degradação ambiental, inequidade social, nem tampouco acontecimentos trágicos como a morte brutal de Dom Phillips, o jornalista britânico brutalmente assassinado no Amazonas, junto com Bruno Pereira, a quem respondi sobre esperança no ano passado.