O Brasil tem um novo presidente eleito em 30 de outubro. O atual, Jair Bolsonaro, deixará o governo em 1º de janeiro de 2023 sem confirmar os profetas do caos, que previam um terceiro turno de contestação dos resultados das urnas. A vida também negou as fantasias que imaginavam as Forças Armadas envolvidas em aventuras de violação da Constituição e da legalidade. Testemunhamos as instituições armadas confirmarem sua vocação para integrar as soluções e não ser parte dos problemas nacionais.
A verdade é que não haveria sustentação política, econômica, militar ou diplomática, interna ou externa para as ilusões de um terceiro turno. O consenso entre os atores relevantes apontava que, mesmo entre aqueles contrariados por uma vitória do ex-presidente Lula, o questionamento do resultado das eleições surgia como a pior solução possível.
O presidente Jair Bolsonaro, mesmo estimulando reações contra um possível resultado favorável ao seu adversário, foi obrigado a aceitar o veredito do eleitor, em razão da absoluta falta de condições e de aliados para um movimento de questionamento das urnas.
Agora, se avizinham os grandes desafios para quem vai governar o Brasil dividido, e o pior, dividido em torno de uma agenda falsa e artificial, como se a sociedade estivesse separada por duas correntes antagônicas, uma comunista e a outra fascista, ambas a ameaçar a sobrevivência da Nação, de acordo com o ponto de vista de cada um dos polos antagônicos. Completa esta falsidade a desorientação criada pela agenda identitária, do comportamento e dos costumes em negação à centralidade da questão nacional. Abandonam-se os objetivos nacionais de retomada do crescimento, de redução das desigualdades e de valorização da democracia com estímulos à competição e à disputa entre grupos sociais que subordinam o interesse comum a uma pauta de fragmentação e de negação da coesão nacional.
O novo governo terá a responsabilidade de escrever o próximo capítulo da vida nacional em meio a uma conjuntura internacional marcada pela instabilidade da guerra na Ucrânia e pelo acirramento da competição geopolítica entre os Estados Unidos e uma China em ascensão.
As previsões da economia mundial para o futuro próximo são carregadas de pessimismo, com riscos de estagnação, de queda no comércio mundial, e, portanto, com consequências indesejáveis para o preço das commodities que compõem os principais itens das exportações brasileiras.
O Brasil enfrentará o grande desafio diplomático de se situar no debate envolvendo a Amazônia, tema incontornável do debate mundial sobre o clima e o meio ambiente, buscando separar na discussão, o que há de legítimo e humanitário na preocupação com as florestas, dos interesses comerciais e geopolíticos na biodiversidade de nosso rico bioma amazônico.
Que o novo governo encontre os caminhos que combinem a soberania nacional sobre a Amazônia com um projeto de desenvolvimento econômico e social da região, com proteção das populações indígenas e da natureza.