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OPINIÃO

'Guerra dos fertilizantes' revolta agricultores do mundo

Aldo Rebelo

Jornalista, presidiu a Câmara dos Deputados, foi relator do Código Florestal e ministro nas pastas de Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa.

13/08/2022

A combinação da elevação dos preços dos fertilizantes - em consequência do conflito entre a Ucrânia e a Rússia -, com medidas adotadas pelos governos a propósito da redução da emissão de gás de efeito estufa, está fomentando uma onda de contestação popular e protestos de agricultores, em todo o mundo.

Graças às boas relações com a Rússia, o Brasil tem recebido suprimentos necessários para proteger, mesmo que parcialmente, nossa agricultura, pecuária e agroindústria dos efeitos indesejáveis da escassez do fornecimento desse insumo para os nossos produtores rurais.

A primeira baixa da “guerra dos fertilizantes” foi a agricultura do Sri Lanka, arruinada por uma insana decisão governamental de banir o uso de fertilizantes químicos e pesticidas, que resultou na queda do presidente Gotabaya Rajapaksa, obrigado a fugir às pressas do país, em um avião militar (Alerta Científico e Ambiental, 07/07/2022).

Ao mesmo tempo, desde junho, produtores agropecuários promovem ruidosas manifestações contra as restrições impostas pelo governo da Holanda ao emprego de fertilizantes para cumprir metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, que resultarão no fechamento de quase um terço das fazendas do país (Alerta Científico e Ambiental, 14/07/2022).

Em um contundente artigo no jornal Telegraaf e no sítio Climate Intelligence (11/07/2022), o geofísico holandês Guus Berkhout, crítico ferrenho do alarmismo climático, observa que o setor agropecuário holandês “é visto em todo o mundo como um exemplo de como se cultivar intensivamente de uma maneira crescentemente sustentável”. E pergunta: “A Holanda era um país do qual se podia orgulhar. Como pode ficar tão errada, em tão pouco tempo?”.

Na Irlanda, o governo acaba de aprovar uma redução de 25% das emissões do setor agropecuário até 2030, recebida pela Associação dos Agricultores Irlandeses (IFA) como um “golpe potencialmente devastador para a agricultura e a economia rural irlandesas”.

A única solução para o Brasil é retomar a autonomia na produção de fertilizantes, que foi abandonada pelos últimos governos brasileiros. Precisamos aproveitar a matéria prima que temos disponível e conquistar a independência na industrialização do insumo.

Um país como o nosso, com o importante e vital papel de grande produtor de alimentos para o seu  povo e para o mundo, não pode ficar dependente do fornecimento de fertilizantes de terceiros. É nossa obrigação seguir na honrosa vocação de sermos um dos gigantes da produção rural.