Florestas são importantes para a vida no planeta. Numerosas iniciativas e campanhas buscam sensibilizar a sociedade para a necessidade urgente de protegê-las, principalmente as florestas tropicais. Mas, afinal, o que é "floresta"?
Em uma abordagem holística, florestas são sistemas complexos, cujas propriedades e características emergem de dinâmicas evolutivas e propiciam a auto-organização e o surgimento de intrincadas interações entre espécies.
Florestas cobrem 30% da superfície terrestre. E podem ser vistas, definidas e valorizadas por meio de diferentes visões, interesses e prioridades. Florestas podem ser vistas como mera fonte de madeira, como um ecossistema composto por árvores, plantas e uma enorme diversidade biológica, como um local sagrado de onde as pessoas tiram alimentos e garantem o seu sustento, ou mesmo como uma área a ser derrubada e substituída por tecno-cultivos.
Definições técnicas têm orientado os debates e a gestão pública, como a definição da FAO, amplamente utilizada no mundo e no Brasil para reportar o estado das florestas. Mas diante dos desafios biológicos, políticos, sociais e climáticos sem precedentes, a definição de floresta no mundo tem se diversificado e na atualidade existem mais de 800 definições.
Como na definição de floresta tende a caber até plantações de espécies de árvore, mesmo em monocultura, o plantio de árvores tem sido fomentado em mais de 43 países, inclusive no Brasil, na “Década de Restauração do Ecossistema”, da ONU. No entanto, plantações de árvores embora economicamente importantes, não devem ser consideradas como restauração florestal, pois não restabelecem ambientes diversos e complexos como as florestas.
As definições de floresta são adaptadas às necessidades sociais e evidenciam novas modalidades de apropriação da natureza. A expressão ‘floresta em pé’, da geógrafa Bertha Becker, é atualmente usada por toda uma rede de discursos, projetos e sujeitos, para mostrar que diante da aproximação da Amazônia ao “tipping point”, é necessário estabelecer uma nova dinâmica econômica à região que garanta a “floresta em pé”. Aparecem, então, novas tecnologias e novos produtos para viabilizar a ‘bioeconomia da floresta em pé’. Essa visão considera que a floresta ameaçada só pode ser salva mediante sua conversão em floresta lucrativa. E neste embate de visões a defesa da conservação da biodiversidade, por exemplo, tem ficado em segundo plano.
Além disso, “floresta em pé” pode ser qualquer coisa, desde a floresta com alta integridade ecológica até uma floresta degradada pelo fogo, que permanece em pé, mas tem modificadas a sua estrutura, função e composição de espécies.
Nesse debate, é preciso considerar que na Amazônia, desde 1990, os Povos da Floresta têm lutado para mostrar que nas florestas vive gente e é essa gente que a mantém em pé e preserva suas funções. Que papel eles terão frente a este novo paradigma tecno-bioeconômico de valorização das florestas, tão diferente de sua própria percepção? Onde ficam seus valores e direitos? Pois são esses valores e direitos que poderão garantir as condições para o desenvolvimento de uma economia que respeite e valorize definitivamente a Floresta Amazônica.