A intensidade com que os crimes ambientais vêm se difundindo pela Amazônia é algo assustador. Não podemos negar que, há tempos, nossa região sofre com problemas de ordem ambiental, que refletem, negativamente, sobre os povos da floresta que dela dependem para a manutenção de seus modos de vida, de suas culturas e de suas condições de existência - algo importante para a preservação da biodiversidade da fauna e flora, bem como, necessário para a cosmologia simbólica das cartografias existenciais construídas por indígenas, ribeirinhos, quilombolas e caboclos, de maneira geral.
As transformações ambientais presentes sobre as florestas obedecem a um modelo hegemônico que vê a exploração em larga escala dos recursos como uma estratégia de desenvolvimento e de enriquecimento. Uma ganância guiada pela acumulação de capital, que invisibiliza os povos tradicionais, sustentada pela tese de que a natureza deve ser explorada não se tornando, assim, um obstáculo para o processo civilizatório modernizador.
Destaco que atividades como a mineração, a exploração madeireira, a garimpagem do ouro, a construção de obras de infraestrutura de transportes, telecomunicações e energia elétrica, contribuíram, em grande medida, para a manifestação de uma dinâmica de violência. Assim, essas atividades promoveram não apenas uma mobilidade do trabalho, mas, também, um movimento de fluxos migratórios dos mais variados segmentos sociais e de todas as regiões. Nesse movimento bastante dinâmico, regionais e não-regionais passaram a divergir em relação aos interesses relacionados ao uso da terra e ao uso dos recursos da floresta. Instala-se, então, uma cartografia da violência que tem no uso do território e na apropriação dos recursos o estopim para os mais variados conflitos pela terra.
Mas, nos últimos anos, em função da fragilidade das políticas ambientais, ela se tornou uma zona de instabilidade social, política e econômica, sobretudo, devido à intensificação dos crimes ambientais. Quando nossa referência são as queimadas e o desmatamento, essas atividades ameaçam a integridade física, biológica e sociocultural dos territórios indígenas, quilombolas e unidades de conservação.
De certo, é preciso repensar modelos sustentáveis de desenvolvimento para a Amazônia, considerando a autonomia de seus povos e a forma ideal de apropriação dos recursos da floresta. Todavia, antes de tudo isso, é preciso construir uma agenda pública que leve em consideração as questões ambientais e o território usado pelas populações tradicionais. Criar políticas ambientais e de defesa dos territórios é uma possibilidade de estabelecer mecanismos estratégicos de proteção e garantia da presença simbólica e cultural, a essência étnica e ancestral dos povos da floresta.