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INOVAÇÃO

Tecnologia a serviço da sustentabilidade

NEGÓCIOS - Empresas nas áreas de mobilidade urbana e telefonia inovam ao buscar soluções interligadas para áreas rurais e também nas cidades, com contribuições ao meio ambiente

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal

10/01/2025

Cada vez mais, empresas investem em sustentabilidade, no intuito de reduzir seus impactos ambientais e deixar sua parcela de contribuição para o planeta e para as próximas gerações. As ações podem envolver desde a redução da utilização de recursos, ao uso de energia de fontes renováveis, diminuição da emissão de gases do efeito estufa, e gestão adequada de resíduos, entre outras iniciativas.


Enquanto algumas empresas adotam certas práticas sustentáveis, outras têm a sustentabilidade em seu DNA: foram criadas para funcionar a partir de uma ideia de economia verde. É o caso da Tabb Mobility, um aplicativo de mobilidade, responsável pelo transporte de passageiros e de encomendas, cujos motoristas só podem utilizar etanol em suas corridas.


Criada em março de 2023, em Paragominas, no Pará, a Tabb já está presente em cinco outros municípios paraenses (Santarém, Ipixuna do Pará, Tomé-Açu, Viseu e Castanhal) e se prepara para chegar à capital paraense, Belém, de olho nas oportunidades geradas pela COP 30. 
“A Tabb é um aplicativo de mobilidade urbana cujo objetivo é contribuir para a redução das emissões, visto que esse tipo de aplicativo aumentou muito a emissão de carbono no mundo todo. Então, a Tabb desenvolveu um sistema em que todos os carros só andam com álcool”, explica Leonardo Carvalho, idealizador do projeto e CEO da empresa.

 

Arborização


Além da redução nas emissões de carbono a partir do uso de biocombustível - o álcool emite 90% menos gases do efeito estufa do que a gasolina -, a empresa tem o compromisso de plantar uma árvore a cada 50 corridas realizadas, em um “cashback verde”. Em 2023, foram plantados seis mil pés de andiroba em uma aldeia indígena em Tomé-Açu. O próximo passo é plantar 800 ipês nas avenidas Augusto Montenegro e Júlio César, na própria zona urbana de Belém.


“Os locais de plantio, a gente procura sempre negociar com os governos locais, para saber onde há necessidade naquele centro urbano, onde tem maior déficit de cobertura vegetal. Então, além da quantidade mais baixa de poluentes com as corridas, também damos essa contrapartida para que as cidades sejam mais arborizadas, para que respiremos um ar menos poluído”, enfatiza Carvalho.

Cadeia produtiva circular e pioneirismo

 

A ideia de sustentabilidade da Tabb, no entanto, não se resume a isso: a empresa criou uma verdadeira cadeia produtiva com máximo aproveitamento dos recursos. Primeiramente, para criar condições favoráveis para que os motoristas adotem o biocombustível, a empresa construiu a primeira usina de álcool de milho do Estado, a Raiz do Etanol, em Ipixuna do Pará, que produz, em média, 4.800 litros de etanol ao dia. A usina aproveita a grande oferta do grão na região, verticalizando o produto no próprio Estado. 

 

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Raiz do Etanol é a primeira usina de álcool de milho do Estado, em Ipixuna do Pará, que produz, em média, 4.800 litros de etanol ao dia (Foto: Divulgação)


O álcool de milho produzido pela usina é vendido a preço especial para os motoristas da Tabb, a R$ 3,80 por litro, mais acessível do que é encontrado nos postos de combustíveis pelo álcool de cana. A empresa prevê a construção de uma nova usina, em Belém, que poderá entregar 150 mil litros por dia e suprir a demanda das corridas feitas pelo aplicativo. Dois postos de abastecimento com etanol de milho da usina estão em fase de licenciamento, em pontos estratégicos de Belém, e um já opera em Paragominas.


Um outro passo da cadeia é a utilização dos subprodutos da produção do etanol, oriundos da fermentação dos grãos, chamados de WDG (Wet Distillers Grains – Grãos Úmidos de Destilaria). Os WDG são usados para a alimentação de suínos.


“Nós já comercializamos o WDG que os produtores usam para os suínos. A gente observou que a resposta foi muito boa nisso, então decidimos trazer a granja para dentro da usina. Teremos uma granja própria, que ficará ao lado da usina, porque, quando você vende, você gera as emissões do transporte do produto, e, na nossa empresa, a política é sempre reduzir as emissões de carbono”, pontua Carvalho. O projeto da granja ainda está em fase de implantação.
Mas a cadeia não para aí: os resíduos orgânicos e dejetos da suinocultura terão como destino um biodigestor, que produzirá biofertilizante e biogás a partir da decomposição, gerando mais energia limpa.


“Algumas cidades já estão utilizando o biogás para funcionamento de transporte coletivo. Então, poderíamos fazer parceria com o poder público nesse sentido, ou ainda transformar esse biogás em outra matriz energética, o nitrogênio”, detalha o CEO da Tabb. “É um projeto que se realiza de ponta a ponta, com 100% de aproveitamento na cadeia produtiva. Nós estamos aí em larga expansão, mas o foco é justamente fazer com que esse produto retorne para o solo de forma positiva”, complementa.

 

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A empresa produz álcool de milho e subprodutos da produção do etanol, oriundos da fermentação dos grãos, chamados de WDG (Wet Distillers Grains – Grãos Úmidos de Destilaria) (Foto: Divulgação)

Benefícios para os motoristas

 

De acordo com Leonardo Carvalho, a Tabb oferece condições vantajosas aos quatro mil motoristas já cadastrados no Estado. “Enquanto outros aplicativos cobram o valor de 24% a 40% sobre o preço da corrida, nós cobramos uma taxa mensal fixa, além do direito de comprar o etanol de milho por um preço mais barato. Isso alavanca a expansão do aplicativo e reflete positivamente na renda do motorista”, analisa. 


“O maior custo do motorista de aplicativo é o combustível. A gente vê o grande consumo de combustível afetando a vida mensal dele. Então, com essas vantagens, ele passa a ter um retorno financeiro mais sólido. Porque, quando se fala em sustentabilidade, é um tripé: não só o ecologicamente correto e o financeiramente viável, mas também o socialmente justo, que gere renda e qualidade de vida”, ressalta Carvalho. 


O motorista Luken Bergson Pereira, que roda pela Tabb em Santarém há cerca de um ano, confirma as vantagens. “Eu rodava por outros aplicativos e acabava não compensando tanto o valor das corridas. Na Tabb, é um valor fixo, calculado por quilômetro rodado e pelo tempo que você passa durante o percurso, então acaba sendo um valor muito bom para os motoristas e um valor justo para os passageiros também”, avalia. “Além disso, acaba sendo vantajoso porque o projeto é instalar usinas pelo Pará, então o preço do etanol fica bem em conta para a gente. Tem sido muito benéfico para mim”, argumenta.


Leonardo Carvalho adianta que também desenvolve um sistema para remunerar os motoristas por meio de crédito de carbono. “O motorista é o principal ponto do negócio. É ele que, no dia a dia, vai estar abastecendo o carro com biocombustível e contribuindo para a redução das emissões aqui no estado”, pondera.

 

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CEO Leornardo Carvalho já está implantando a Tabb na capital paraense, visando as oportunidades relacionadas à conferência climática que acontecerá em novembro de 2025 em Belém (Foto: Cristino Martins/O Liberal)

De olho na COP 30

 

Bergson, de Santarém, diz que decidiu se cadastrar na Tabb por conta da proposta da empresa. “Por ser um aplicativo da nossa região, e não estrangeiro como os outros, e também voltado à questão climática, me identifiquei e decidi ser motorista”, conta. 


“O projeto ambiental de usar um combustível menos poluente e plantar árvores a cada 50 corridas são iniciativas muito importantes, no momento que nós vivemos, com a questão climática na nossa região, E também, com a COP 30 em Belém, é importante ter um projeto de mobilidade que funcione”, opina.


Justamente visando as oportunidades relacionadas à conferência climática que acontecerá em novembro de 2025 em Belém, Carvalho já está implantando a Tabb na capital paraense. “Já fizemos testes em Belém e nossa meta é estar funcionando 100% durante a COP 30. Nós estamos na porta da COP, com um déficit de transporte para receber todas essas pessoas. Além disso, queremos mostrar algo para o mundo, que estamos fazendo o dever de casa, que temos um modelo de serviço sustentável e com responsabilidade em fazer reflorestamento. A COP acaba sendo essa janela para a gente”, explica o idealizador do projeto.  


O líder da Tabb acredita que as empresas precisam investir em sustentabilidade. “O negócio ambiental pode ser altamente rentável. É preciso pensar nos recursos de agora e nas gerações futuras também. O povo fala de descarbonização e essa é a nossa visão. Existe um ditado que fala que a palavra convence, mas o exemplo arrasta. Eu acho que, com o resultado do nosso empreendimento, outras empresas também vão atrás da mesma coisa”, almeja o empreendedor.

 

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A Tabb tem o compromisso de plantar uma árvore a cada 50 corridas realizadas, em um “cashback verde” (Foto: Divulgação)

Empresa de telefonia investe em “cashback verde”

 

Leonardo Carvalho também é o representante, no Pará, da Rico Telecom, uma operadora de telefonia 5G que se baseia em uma rede virtual (mobile virtual network, ou MVMO), utilizando a infraestrutura de rede de uma outra operadora, a TIM.


A cada chip ativado, a Rico se compromete a plantar uma árvore. No Pará, já são 30 mil clientes, o que corresponde ao plantio de 30 mil árvores, que ainda será realizado em diversas cidades paraenses, na mesma proposta de “cashback verde” que a Tabb.


“A Rico Telecom é uma empresa que pertence ao grupo Casa do Celular, que tem 240 lojas no Brasil. Os chips da Rico são vendidos nessas lojas, mas já estamos ampliando as frentes de vendas. No Pará, temos lojas em Belém, Parauapebas, Santarém, mas a rede funciona em todo o Estado”, esclarece Carvalho. A operadora iniciou suas atividades em Santarém, em 2022, com planos de expandir para outros estados do Norte e Nordeste e, posteriormente, para o resto do País. 


Além do compromisso com o reflorestamento, a empresa também projeta um tipo de chip que poderá ser reutilizado, ao invés de desprezado, como acontece com os demais. “Então, teremos o reaproveitamento do chip, em mais uma contribuição para o meio ambiente, junto com as árvores plantadas”, ressalta o empresário.

 

PARCERIA INSTITUCIONAL
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