De acordo com os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) para a Amazônia Legal, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a derrubada na região, entre janeiro e setembro de 2022, atingiu 9.069 km², o que corresponde a quase oito vezes a cidade do Rio de Janeiro.
Apenas no mês de setembro foram destruídos 1.126 km² de floresta na Amazônia. Esse foi o terceiro pior setembro em 15 anos, ficando atrás apenas de 2021 e 2020. E quase metade dessa destruição ocorreu no Pará: 553 km² (49%).
Dos dez municípios que mais desmataram em setembro, sete estão no Pará. São eles: Portel, Pacajá, Anapú, São Félix do Xingu, Senador José Porfírio, Placas e Uruará. No estado, a destruição está avançando para o norte e se aproximando do maior bloco de áreas protegidas do mundo. Outro problema do Pará, levantado pelo Imazon, é o avanço da destruição dentro de terras indígenas e unidades de conservação.
“Seis dos 10 territórios indígenas mais desmatados em setembro estão em solo paraense, inclusive o Apyterewa, que liderou o ranking. O local, que neste ano vem sofrendo mensalmente com o avanço das invasões, perdeu apenas no mês passado uma área equivalente a 1,8 mil campos de futebol. Já em relação às UCs (Unidades de Conservação), o Pará tem cinco das 10 mais destruídas, com destaque negativo para a APA do Lago de Tucuruí, a segunda colocada”, afirma Raissa Fernanda Ferreira, pesquisadora do Imazon.
Amazonas e Acre também se destacam no ranking do desmatamento
Pelo sistema de alerta do Imazon, o segundo estado que mais destruiu a Amazônia em setembro foi o Amazonas, com 193 km² (17%). O Imazon destaca que, no caso do Amazonas, a destruição avança pelo Sul, onde há forte pressão de grileiros. Apenas dois municípios dessa região, Lábrea e Boca do Acre, somaram 38% do total desmatado no estado.
“As derrubadas no Amazonas têm se concentrado em áreas de florestas públicas não destinadas, aquelas que ainda não tiveram um uso definido, e em áreas protegidas, como terras indígenas. Territórios que muitas vezes são invadidos por grileiros com a expectativa de futuramente conquistar um título de propriedade e lucrar com a venda deles”, explica Raissa.
Em terceiro lugar ficou o Acre, onde foram derrubados 140 km² de floresta, 13% do registrado na Amazônia. No estado, 18% da área desmatada ocorreu apenas dentro da Resex Chico Mendes (26 km²), o que fez o território ser a unidade de conservação mais devastada na Amazônia no mês de setembro.
Esta é a quinta vez consecutiva em que o desmatamento atinge o pior patamar dos últimos 15 anos, entre janeiro e setembro. O Imazon destaca que durante uma década, de 2008 a 2017, o desmate acumulado entre janeiro e setembro na região sempre se manteve abaixo dos 3.500 km².
“Esses altos níveis de destruição não só ameaçam a biodiversidade e os povos e comunidades tradicionais, mas afetam também a vida de toda a população brasileira. A derrubada da floresta impacta no aumento das emissões dos gases do efeito estufa, que são os grandes responsáveis pela mudança climática e pelos eventos extremos”, explica a pesquisadora do Imazon Bianca Santos.
Degradação florestal cresceu quase cinco vezes em setembro
Além do desmatamento, que é a retirada total da vegetação, a degradação florestal causada pelas queimadas e pela extração de madeira aumentou 359% na Amazônia. A área afetada por esse dano ambiental passou de 1.137 km² em setembro de 2021 para 5.214 km² no mesmo mês deste ano. Ou seja: um crescimento de quase cinco vezes. Além disso, esse foi o sexto mês consecutivo em que a degradação aumentou.
“Grande parte das áreas degradadas na floresta amazônica em setembro estão relacionadas às queimadas, que oferecem risco à saúde pública. Diversos estudos as associam com o aumento dos problemas respiratórios e não só na população amazônica, pois a fumaça das queimadas pode chegar a outras regiões do país”, acrescenta a pesquisadora Bianca Santos.
Em setembro, apenas dois estados concentraram 96% da área degradada na Amazônia: Mato Grosso, com 3.865 km² afetados (74%), e Pará, com 1.127 km² (22%).
Órgãos oficiais - Em nota enviada à TV Liberal, do Pará, o Ministério do Meio Ambiente informou que não comenta dados não oficiais e que as informações de combate a crimes ambientais são lideradas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Este último, informou que a operação Guardiões do Bioma atua de forma permanente para combater o desmatamento ilegal e as queimadas, além de garantir a proteção de terras indígenas.
O Governo do Pará, ressaltou que faz operações de combate a crimes ambientais e oferece apoio aos órgãos federais de fiscalização. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará (Semas), informou ainda que a gestão em áreas federais é de responsabilidade da União e que, quando solicitado apoio, a secretaria não mede esforços para ajudar. A Semas também informou que, por meio do Plano Estadual Amazônia Agora, realiza ações de conservação das florestas e de combate aos crimes ambientais. Segundo a Semas, a operação Amazônia Viva já embargou mais de 7 mil hectares de terras onde eram realizadas atividades ilegais.