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OPINION

Um Futuro Para a Amazônia

Professor da Universidade Estadual do Pará e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Aiala Colares Couto

23/12/2022

Um futuro para a Amazônia? Pois é, pensar em um futuro para a região amazônica é pensar, acima de tudo, em questões emergenciais sobre a vida da - e na - floresta, que estão relacionadas não apenas ao ecossistema e à biodiversidade, mas, também, ao modo de vida e sobrevivência de nossas populações. Pensar em um futuro para a Amazônia é também trazer à tona o debate acerca da segurança climática ou até mesmo da segurança planetária, o que significa dizer que não devemos ser egoístas ao ponto de acharmos que a Amazônia é importante apenas para seus povos.

De certo, a expansão do modo de produção capitalista trouxe grandes desequilíbrios ambientais para o mundo, com destaque para o aquecimento global resultante da emissão do gás poluente em função da utilização de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e, somando-se a isso, o desmatamento e as queimadas aceleram esse processo.

Então, como devemos pensar em um futuro para a Amazônia? A resposta para esse questionamento não parece ser simples, visto que, por quase um século a expansão da fronteira econômica amazônica negligenciou o papel das comunidades tradicionais para a manutenção da vida na floresta, bem como incentivou um processo de acumulação do capital por meio da espoliação da natureza. Costumamos dizer que ajustes espaciais foram realizados na região com o intuito de fomentar a exploração da riqueza, riqueza esta que gerou concentração de renda de um lado e conflitos sociais e ambientais de outro. A violência da consolidação do capital na Amazônia é marcada por histórias de genocídios e ecocídios que invisibilizaram as reais necessidades e culturas dos povos amazônidas.

Então, qual seria a resposta para tal questionamento? O caminho a seguir para que possamos, então, alcançar o modelo ideal, que tenha na sustentabilidade ambiental, social e econômica os seus principais motores de desenvolvimento, parece soar como uma utopia. Talvez seja utópico acreditar que é possível produzir e distribuir riquezas mantendo a floresta viva e preservada com sua rica biodiversidade. Além disso, potencializar os conhecimentos tradicionais a partir de arranjos produtivos locais pode garantir uma inserção de comunidades amazônidas que têm a partir do extrativismo suas fontes de renda.  Há também, toda uma riqueza que é gerada a partir dos conhecimentos empíricos e dos saberes ancestrais que dão plenas condições a um incentivo para um turismo de base comunitária sustentável e inclusivo.

Talvez possa parecer utopia, mas a natureza é capaz de proporcionar o bem viver, ou seja, justamente aquilo que está faltando para os povos da floresta que enfrentam não apenas os problemas de ordem ambiental, mas também problemas de ordem social, tendo que enfrentar a miséria, a subnutrição e o baixo índice de desenvolvimento humano. E, além de tudo isso que foi destacado, esses povos convivem com a invasão e a expropriação de suas terras, uma violência que não é apenas física, ela é também simbólica e representa um processo de invisibilização da existência do ser.

Por isso, acredito que processos educativos libertadores, maior participação popular nos processos decisórios, sensibilidade por parte do poder público e por fim enfrentamento aos mais variados tipos de crimes ambientais, acompanhados de uma política de enfrentamento da pobreza são as mais importantes estratégias para se pensar um futuro para a Amazônia. Reforço a ideia de que não há futuro para a Amazônia sem seus povos participando ativamente dos processos políticos e econômicos que versam pelo ideal de sustentabilidade e bem-viver.