Os debates acerca da exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira têm envolvido transição energética, impactos ambientais e sociais e, mais recentemente, a capacidade de geração de emprego e renda. A região compreende o litoral do Amapá e se estende ao longo de 2.200 quilômetro até o Rio Grande do Norte, abrangendo três estados da Amazônia: Amapá, Pará e Maranhão. Neles, a expectativa é que 162.248 postos de trabalho sejam criados com o início das atividades de pesquisa petrolífera, tendo um acréscimo total de R$ 32,3 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) local.
Os dados foram obtidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do Observatório Nacional da Indústria. Somente no Pará, o levantamento estima que 51.706 empregos sejam criados, proporcionando um aumento de 6,2% no PIB - o equivalente a R$ 10,7 bilhões. Os cálculos foram baseados no sistema de contas regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, para isolar eventuais distorções por causa da pandemia de covid-19. No cenário, os estados serão responsáveis por produzir as máquinas e equipamentos necessários para a produção, demandando mão de obra.
A CNI aponta, também, que serão 326.049 novos empregos gerados em todos os territórios que fazem parte da Margem, permitindo desenvolvimento econômico e garantindo segurança na transição energética. A Petrobras – empresa que, inicialmente, ficará responsável pelas atividades – aposta que as reservas vão garantir os níveis de produção do petróleo a partir da década de 2030, além de servirem para a descarbonização. Por isso, a previsão é que sejam destinados 49% dos investimentos exploratórios até 2027, somando US$ 6 bilhões. Serão, ainda, 16 poços perfurados na Margem no período.
Expectativa
No início de abril a Petrobras anunciou que confirmou a presença de petróleo na Margem Equatorial. A descoberta foi em águas profundas da Bacia Potiguar, no poço exploratório Anhangá, localizado entre os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, e já é a segunda de 2024. A notícia gera expectativa para o setor produtivo do Pará, estado que faz parte da faixa de exploração. Para Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), “a atividade representa a oportunidade para que possamos finalmente equalizar diferenças que historicamente nos relega a condições de atraso”.
“Essa expectativa aumenta ao sabermos que em outras regiões a exploração de petróleo trouxe grandes benefícios socioeconômicos, impulsionando a geração de emprego e renda, além de outros impactos positivos provenientes dos royalties da atividade, que são revertidos para áreas estratégicas ao desenvolvimento regional, com melhorias em infraestrutura, saneamento, educação e saúde. Quando vemos o avanço dos estudos em outras áreas da Margem Equatorial, ficamos ansiosos para saber quando chegará a nossa vez”, acrescenta.
Geração de empregos fará o estado avançar econômica e socialmente
Os mais de 51 mil postos de trabalho que a CNI estima que sejam criados no Pará deverão movimentar toda a economia do estado, em diversos setores, estimulando a criação de negócios, fortalecendo fornecedores locais e internalizando compras, conforme aponta a Fiepa. Com isso, a previsão é que os impactos da atividade sejam vetores para o avanço econômico e social da região. “A cadeia produtiva da indústria do petróleo é bastante extensa e deve gerar empregos diretos e indiretos em diversas áreas, seja na fase de implantação do projeto, seja durante o funcionamento da planta”, diz Alex Carvalho.
As oportunidades de trabalho que a exploração de petróleo deverá trazer para o estado vão desde vagas em áreas técnicas, como a manutenção industrial, soldagem, mecânica de motores marítimos e eletricistas, até postos para nível superior – as engenharias, geologia, áreas de tecnologia, segurança e meio ambiente, com mão de obra especializada para atuar na exploração, produção ou refino do material. “Assim como oportunidades de trabalho nos setores de comércio e serviços, com impulsionamento no fornecimento de hospedagem, transporte, equipamentos, alimentação, vestuário e tantos outros”, completa Alex.
Pesquisa
A área de pesquisa ainda tem chances de ser desenvolvida para atender a demandas da exploração petrolífera. “Outra expectativa é que sejam criados centros de estudos e pesquisa na exploração de petróleo para formar profissionais locais, integrar conhecimentos e desenvolver práticas sustentáveis para um desenvolvimento justo e inclusivo da indústria. Além disso, no Pará e em toda a Amazônia, existem universidades que podem contribuir plenamente para a formação acadêmica dos profissionais necessários à atividade petrolífera”, adiciona o presidente da Fiepa.
Gargalos locais precisam ser superados
Para alcançar o desenvolvimento estimado pela Federação nos diversos setores, alguns gargalos precisam ser superados na região. Alex Carvalho explica que a infraestrutura do estado ainda carece de reparos para atender as necessidades de operação, tardando o crescimento de atividades, como as portuárias e marítimas. “A formação de mão de obra técnica e especializada local para atender as demandas do projeto e garantir a contratação de profissionais da própria região. Também precisaremos de investimentos para a qualificação dos fornecedores locais”.
“É muito importante o apoio do setor público na liberação de subsídios, como o Nova Indústria Brasil e o Brasil Mais Produtivo, para a renovação e modernização do parque industrial do estado, assim como para a aquisição de tecnologia, como forma de impulsionar a verticalização da produção, para que a região consiga fornecer os equipamentos e insumos necessários ao empreendimento. Nesse sentido, também é importante que as indústrias busquem acessar esses programas e incentivos que vêm sendo disponibilizados pelo Governo Federal”, enfatiza Carvalho.
Capacitação
Os primeiros passos para a capacitação de mão de obra de qualidade para atender demandas que possam surgir com a Margem Equatorial já foram dados. No Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), por exemplo, profissionais estão sendo capacitados para trabalhar diretamente no suporte da operação. Manutenção industrial, soldagem, mecânica de motores marítimos, eletricistas e metalmecânica são as áreas. Além disso, quando as atividades, de fato, se iniciarem, a previsão é que haja a oferta de cursos específicos, como operador de petróleo e de gás natural. “O Sistema Fiepa sempre se adianta aos grandes empreendimentos que se instalam no Pará, identificando as demandas e qualificando as pessoas”, afirma Alex Carvalho.
Setor precisa de grande variedade de profissionais
No mesmo caminho, a formação de profissionais para atuar na atividade petrolífera pode ser dividida em dois níveis, conforme explica o professor doutor João Cruz, titular do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA): pós-ensino médio, na forma de Tecnólogo em Petróleo e Gás, e pós-ensino de graduação, lato-sensu ou stricto-sensu, oferecidos por programas de pós-graduação credenciados junto ao Ministério da Educação (MEC). “As expectativas são positivas para o pessoal formado nessa área, visto que o setor necessita de uma variedade muito grande de profissionais”, diz.
Áreas
O professor destaca que as áreas que podem abranger essas vagas são extensas: geologia, geofísica, engenharia, economia, direito, administração, física, química, oceanografia, meteorologia, ciências da computação são candidatos naturais a abraçar uma das carreiras no setor de petróleo e gás. “Na fase em que se encontram os trabalhos na Margem Equatorial, podemos dizer que ainda são necessários vários estudos exploratórios, pois a maioria das reservas encontradas até então ainda precisam de serem validadas, a fim de ganharem viabilidade de mercado”, afirma João.
“Neste caso, são os mais urgentes: geólogo, geofísico, engenheiro de petróleo, engenheiro de perfuração de poços, químico, petrofísico, pilotos de aeronaves e marítimos, gestor de logística de plataforma, gestor de regulação, gestor de projeto e analista econômico. Também são solicitados tecnólogos em diferentes especialidades”, complementa.
UFPA já oferece curso com ênfase na Margem Equatorial
O professor João Cruz é coordenador de um curso de especialização, oferecido pela UFPA, que tem ênfase nos trabalhos desenvolvidos na Margem Equatorial. A segunda edição das aulas vai começar em agosto e contará com a aplicação de técnicas de interpretação baseadas em Inteligência Artificial (IA). “Podemos formar especialistas com habilidades em análise de dados geológicos e geofísicos tanto em superfície como em poços, com o objetivo de caracterizar os ambientes propícios à geração, armazenamento e exploração de óleo e gás”, frisa Cruz.
“Essa capacitação é realizada no formato EAD (ensino a distância), com duração de 18 meses. Faz parte do contexto desse estudo disciplinas com conteúdos voltados para a transição energética e a sustentabilidade ambiental. Futuramente, planejamos oferecer esse curso também na forma de um Mestrado em Análise de Bacias Sedimentares com IA. Na primeira edição foram oferecidas 120 vagas, sendo 30% para suprir o sistema de quotas, o que pretendemos repetir na próxima oferta”, adianta o professor.
Impactos que a Margem Equatorial pode trazer à Amazônia
- No Pará
Valor adicional ao PIB de R$ 10,7 bilhões, um acréscimo de 6,2%
Criação de 51.706 empregos
- No Amapá
Valor adicional ao PIB de R$ 10,7 bilhões, um acréscimo de 61,2%
Criação de 53.916 empregos
- No Maranhão
Valor adicional ao PIB de R$ 10,9 bilhões, um acréscimo de 12,2%
Criação de 56.626 empregos
Fonte: CNI