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OPINIÃO

Mitigação, adaptação e negócios – pari passu

Arquiteto e empresário da construção civil. Presidente do Instituto Amazônia+21 e Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia.

Marcelo Thomé

23/01/2023

O Governo brasileiro deu um forte sinal chegando no Fórum Econômico Mundial, em Davos, representado pelo ministro Fernando Haddad e pela ministra Marina Silva. A inovadora presença do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, pari passu – ou “with an equal step” – com o Ministério da Fazenda, ecoa a mensagem de extraordinária repercussão causada pela presença de Lula, ainda na condição de presidente eleito, na COP 27, no Egito, em novembro passado.

Tais gestos afirmam a disposição do Brasil para se tornar protagonista em uma economia global de baixo carbono. O recado vai para o mundo, mas cabe a nós, brasileiras e brasileiros – especialmente atores da cena empresarial –, abraçar a oportunidade de fazer deste sinal verde do Governo a cor de uma nova economia nacional, sustentável e resiliente para encarar duros desafios anunciados, inclusive uma recessão global “extremamente provável”, como alardeado no frio do Fórum.

Na sua primeira fala em Davos, a ministra Marina Silva cobrou das nações ricas os 100 bilhões de dólares anuais para os países em desenvolvimento combaterem o aquecimento global. A promessa, firmada no Acordo de Paris, em 2015, já começa a cheirar a calote universal, pois ameaça a vida sobre a face da Terra. O destravamento do financiamento climático, portanto, é tão necessário quanto o fim das queimadas e do desmatamento na Amazônia.

A ministra destaca a importância de recursos para ações de mitigação e adaptação. Como sabemos, mitigação trata da redução da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera; e adaptação trata da redução dos efeitos do aquecimento global. Mas os passos mais iguais de Marina e Haddad em Davos fazem crer que o Governo do presidente Lula deve olhar para os negócios sustentáveis com a mesma premência da mitigação e da adaptação, para assim estruturar a base produtiva da economia verde nacional, com o devido protagonismo da Amazônia.

Destravar o financiamento climático deve ser mais que repassar recursos para governos de países em desenvolvimento. Ele será efetivo quando o seu dinheiro chegar nas comunidades que cuidam dos biomas e da biodiversidade. O Fundo Climático, esse dos 100 bilhões de dólares cobrados pela ministra, pode financiar atividades produtivas sustentáveis. Da mesma forma, o Fundo para a Biodiversidade, criado na COP 15. Então seria interessante pensar como outros mecanismos financeiros voltados para o ambiente, como o próprio Fundo Amazônia, capitalizado por países como Noruega e Alemanha, também possam reservar recursos para negócios sustentáveis que gerem emprego, renda e qualidade de vida para quem vive na Amazônia ou no chão de outros biomas que precisamos conservar.

Em um mundo tão desigual, ainda mais em um país tão desigual como o nosso, é preciso criar oportunidades e inclusão, senão a frustração de necessidades humanas e expectativas locais pode minar a mobilização global para contenção das catástrofes climáticas.

Pari passu com Davos, em outro prestigiado evento mundial, a Abu Dhabi Sustainability Week 2023, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia e condutor do European Green Deal, Frans Timmermans, afirmava quase profeticamente: “Se as pessoas não conseguem chegar ao fim do mês, o fim do planeta não é a sua principal preocupação”.