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OPINIÃO

Amazônia, duas COPs e uma Copa

Doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, cofundadora da Rede Amazônia Sustentável (RAS), professora da pós-graduação na Universidade Federal do Pará e membro do Painel Científico para a Amazônia.

Joice Ferreira

16/12/2022

A Conferência do Clima (COP 27) terminou há algumas semanas, no dia 18 de novembro, e a Conferência da Biodiversidade (COP 15) se iniciou nesta primeira semana de dezembro. A extemporânea Copa do Mundo, no Qatar, vem acontecendo simultaneamente a esses eventos.

As conferências da ONU, as COPs, que ocorrem desde o megaevento da Eco-92, no Brasil, buscam soluções para aliviar problemas críticos que ameaçam a continuidade de nossa existência na Terra. Basicamente, esses problemas perpassam por todas as áreas da nossa vida - mudanças climáticas e perda de biodiversidade. A despeito do seu propósito grandioso, repetindo em outras palavras – o de salvar a humanidade-, o interesse do grande público pelas COPs não chega nem perto daquele dedicado à Copa.

É compreensível que ninguém escolheria falar de desgraça, enquanto se poderia fazer festa com os amigos, torcer de verde e amarelo e comemorar um gol bonito do Richarlison. Mas, não temos escolha. Precisamos, sim, pensar nas mudanças climáticas. Da mesma forma, é inescapável pensar sobre a variedade de formas de vida que estamos perdendo. Ambos têm impacto decisivo sobre nossa saúde e bem-estar.

Em nenhum lugar as pessoas deveriam estar mais atentas a esses assuntos que na Amazônia. Primeiro, as florestas dessa imensa área tropical correspondem ao maior reservatório de carbono, elemento que se mantiver devidamente guardado nas árvores e no solo, em vez de lançado na atmosfera por desmatamentos e queimadas, evita e ameniza as mudanças climáticas. Segundo, os ecossistemas aqui são os mais biodiversos do planeta, composto por uma variedade de espécies, seja de árvores, palmeiras, insetos e outros animais, micro-organismos e fungos, entre tantos.  Essa biodiversidade é importante para a resiliência da própria floresta e guarda características e compostos, que se bem conhecidos e aproveitados, são capazes de transformar o desenvolvimento da região e elevar os meios de vida das suas populações humanas.

Perdemos a Copa. Uma derrota dramática para o time da Croácia. Certamente, um desfecho impactante, já que o futebol é parte da nossa identidade coletiva. Mas, perdemos também todo ano com a perda das florestas que estão na cor da nossa bandeira. Entre 2021 e 2022, foram mais de 11.500Km2 de florestas derrubadas na Amazônia, sem contar nos incêndios, exploração ilegal de madeira e garimpo. Vidas de pessoas que defendem as florestas também são perdidas com violência e ganância.

O que explica tamanha apatia em relação a essas tragédias? Elas constituem uma verdadeira derrota para todos que habitamos a região e todos os lugares do planeta. Deveríamos estar acompanhando os desdobramentos de cada COP com mais ansiedade que uma final de Copa do mundo. Não estamos, como nação, e a verdade é que nenhuma está. Os resultados concretos das negociações entre os países têm sido pífios até aqui. Na COP 27, o resultado mais comemorado foi a criação de um fundo de perdas e ganhos, no qual os países mais vulneráveis serão apoiados para lidar com os extremos climáticos. Na COP 15, espera-se, por exemplo, definir formas de financiamento para proteger a biodiversidade global e um plano para ampliar as áreas protegidas no planeta.  Os planos anteriores foram pouco eficazes em conter a perda de ecossistemas e espécies. Os avanços são pequenos e distantes da raiz dos problemas. Os países continuam falhando na meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, principalmente pelos combustíveis fósseis e, no caso do Brasil, ainda mais pelos desmatamentos e a degradação ambiental. Estamos em prorrogação, melhor evitar a agonia dos pênaltis.