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BIOECONOMIA

Pesquisadores desenvolvem batom vegano de jambo

Fórmula do produto desenvolvido por equipe da Universidade Federal do Oeste do Pará também conta com caroço de bacuri, sementes de murumuru e até goma de tapioca

Ândria Almeida

23/07/2022

O mercado da beleza tem uma das maiores indústrias de produtos no mundo, com uma infinidade de tipos e modelos. Além da qualidade, o preço é sempre um forte atrativo na hora da compra. Em Santarém, no oeste do Pará, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) está produzindo um batom vegano (sem qualquer substância de origem animal) a partir da fruta jambo e de caroços e sementes de outros insumos da natureza. O intuito é oferecer um produto ecologicamente correto e com baixo custo aos consumidores.

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Na base da produção do batom, além do jambo, utiliza-se o caroço do bacuri, que costuma ser descartado pela indústria alimentícia, e sementes de murumuru. A ideia para desenvolver surgiu há oito anos quando um grupo de pesquisadores percebeu que existia uma grande quantidade dessas frutas na cidade, bem como um alto índice de desperdício. 

A professora de farmacotécnica e cosmetologia do curso de Farmácia da Ufopa, Kariane Nunes, lembra que, ao chegar na cidade, notou a abundância de jambos, em épocas sazonais, que davam um colorido especial às ruas. “As flores e frutos eram desperdiçados na cidade, não eram aproveitados em sua capacidade máxima”. Foi quando surgiu a ideia de “fazer um pigmento natural, criar um bioproduto, a necessidade de aproveitar o que seria desperdiçado, gerando uma renda local e um produto limpo”, relatou.

Além dela, participaram desde o início o professor Leopoldo Clemente Baratto (atualmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) e os então acadêmicos da Ufopa, Bruna Carvalho Cantal de Souza e Walberson da Silva Reatgui, hoje farmacêutica e biotecnólogo, respectivamente.

Bacuri - A professora Kariane Nunes explica que, usualmente, a principal matéria-prima utilizada na indústria para produção de batons é a cera de carnaúba - que garante a rigidez-, juntamente com a cera de abelha, que dá emoliência ao produto. No entanto, a pesquisadora afirma que, para realidade local, esses insumos teriam alto custo, o que levou à adaptação da fórmula para o uso da manteiga de bacuri.

“Essa manteiga é produzida em grande quantidade no município e ela apresenta alto valor do ácido graxo palmitoleico. Sendo 5% em comparação com outros óleos  - que não possuem mais que 1,5%-, qualificando a manteiga de bacuri como um emoliente fantástico. E ela também pode ser usada como umectante”, explica a professora. “Além de agregar valor comercial ao produto - por utilizarem matéria-prima da natureza -, e ainda por ser mais acessível e barata, a manteiga de bacuri também proporciona mais hidratação que os (batons) produzidos com cera de abelha”, completa.

Pesquisadores buscam empresas interessadas em investir no produto

 

Após oito anos do início do projeto na Ufopa, os pesquisadores conseguiram junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a carta-patente de invenção intitulada "Produto cosmético para colorir os lábios baseado em pigmento extraído das cascas do fruto do jambeiro-vermelho (Syzygium malaccense)”.

Com isso, os pesquisadores vêm se dedicando a buscar empresas interessadas no investimento e comercialização do produto. “Nosso desejo é colocar esse produto no mercado, movimentar a bioeconomia da nossa região. Acho que isso é muito importante, tanto como resultado para a Universidade Federal do Oeste do Pará, quanto também para o nosso crescimento e, claro, do nosso portfólio enquanto pesquisadores da região amazônica, com bioprodutos da nossa biodiversidade”, afirmou a professora Kariane Nunes.

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Saúde, geração de renda e baixo custo

A equipe do projeto destaca que a industrialização do batom produzido em Santarém seria mais uma forma de geração de renda para comunidades locais que trabalham, por exemplo, com o bacuri e o jambo. “Se elas passarem a extrair a manteiga de bacuri ou se forem contratadas para coletar e descascar jambos, imagina quantas pessoas poderiam ser beneficiadas?”, indagou Bruna Cantal.

Goma de tapioca - Bruna destaca ainda que uma das vantagens de se utilizar um pigmento natural, mais saudável, na formulação de um batom é a substituição de pigmentos sintéticos, que, muitas vezes, contêm metais pesados e podem contribuir para danos à saúde. "Essas substâncias podem causar câncer de boca, câncer de pele, em longo prazo. Então, o nosso batom vem sanar esses problemas e também agregar valor a um produto que seria desperdiçado”, detalhou, ressaltando que os cosméticos naturais tendem ainda a ter um custo mais viável, além do aproveitamento das frutas e também da geração de empregos. Outra inovação da pesquisa foi a substituição do dióxido de titânio, presente na fórmula, por goma de tapioca. Apesar de atuar como uma espécie de protetor solar, o dióxido também é tóxico, pontua Bruna Cantal. “Então, nós o substituímos por um produto natural, da nossa região, que tem a mesma cor e textura”, ressalta.

Desafios - Chegar à fórmula atual do batom de jambo exigiu muita dedicação do grupo de trabalho e ainda envolve a superação de desafios, como a falta de estabilidade na cor, uma vez que o pigmento muda de coloração com o passar do tempo, devido a oxidação da molécula, e perde a cor original. Essa instabilidade já está em processo de análise de correção, graças a uma parceria com a Universidade de Brasília (UNB), que pretende microencapsular o pigmento. “Assim ele ficaria protegido dentro da cápsula e fixaria mais tempo na boca”, finaliza a professora Kariane Nunes.

Sobre as frutas

 

Jambo 

O jambo é um fruto de origem asiática, mas que ganhou vários cantos do Brasil. Entre os meses de agosto e fevereiro, os jambeiros ganham uma coloração rósea-avermelhada. Esse é o anúncio do início da temporada de jambo na região de Santarém. 

Além de suculentos, os jambos são ricos em vitaminas e sais minerais. A fruta e as folhas do jambeiro são utilizadas na medicina popular para aliviar dores de estômago e diarreias, estimulantes do apetite, diuréticos e no combate a anemias.

 

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Bacuri

O bacuri é um fruto muito utilizado na culinária regional, especialmente em sorvetes, bombons, sucos, geleias, doces e bolos, mas também é consumido em purê e in natura. A fruta possui propriedades que fazem bem à saúde: fósforo, ferro e vitamina C, além de betacaroteno, além de ser antioxidante que fortalece o sistema imunológico, prevenindo doenças, e contribui para a saúde da pele.

 

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Murumuru

O murumuru é um fruto oriundo de uma palmeira espinhosa, muito comum na amazônia, cujo óleo é muito utilizado na indústria de cosméticos, pois traz benefícios bem conhecidos para pele e cabelos. Suas propriedades são consideradas antioxidantes e de hidratação intensa. 

 

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