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LIBERAL AMAZON

Amazônia teve pior desmatamento da década em 2021

Área derrubada foi 29% maior em relação ao ano anterior. Metade da devastação ocorreu em áreas federais

Dilson Pimentel

20/06/2022

O avanço do desmatamento da floresta amazônica acumulou em 2021 seu pior ano em uma década. De janeiro a dezembro do ano passado, foram destruídos 10.362 km² de floresta. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a região por meio de imagens de satélites. Apenas em relação a 2020, ano em que o desmatamento na Amazônia já havia ocupado a maior área desde 2012, com 8.096 km² de floresta destruídos, a devastação em 2021 foi 29% maior.

Apesar do mês de dezembro ter apresentado uma redução de 49% no desmatamento, passando de 276 km² de área devastada, em 2020, para 140 km², em 2021, o novo recorde negativo anual é considerado grave por pesquisadores que monitoram a região. De acordo com institutos de pesquisa, entre as consequências da derrubada da floresta estão a alteração do regime de chuvas no Brasil e países vizinhos, a perda da biodiversidade, entre outros.

Cruzando as áreas desmatadas com o banco de dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), pesquisadores observaram que 4.915 km² foram devastados dentro de territórios federais. Isso corresponde a 47% de todo o desmatamento registrado na Amazônia no ano passado. Apenas nessas áreas, a destruição aumentou 21% em comparação com 2020 – e também foi o pior em 10 anos.

Criadas para a preservação da biodiversidade e a manutenção dos modos de vida sustentáveis de povos e comunidades, as unidades de conservação federais do Brasil também viram o desmatamento avançar por seus territórios na Amazônia. Em 2021, foram devastados 507 km² de mata nativa dentro dessas áreas protegidas, um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Também nesses territórios, a devastação atingiu o pior patamar da década.

“Para combater o desmatamento, é necessário intensificar a fiscalização, principalmente nas áreas mais críticas. Aplicar multas e embargar áreas desmatadas ilegalmente”, indica Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.

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(Vinícius Mendonça / Ibama)

O cruzamento de dados da devastação na Amazônia brasileira em 2021 aponta ainda que 813 km² foram destruídos em florestas públicas estaduais nas diferentes Unidades da Federação da região o que equivale a 8% do total desmatado na Amazônia. Nessas áreas, o desmatamento também chegou, em 2021, ao maior acumulado da década, crescendo 26% em relação a 2020.

Apenas nas unidades de conservação estaduais, foram destruídos 690 km² no ano passado, um total 24% maior do que o de 2020. “Os estados realizam ações de combate ao desmatamento, porém elas acabam sendo insuficientes diante da crescente devastação que a Amazônia está enfrentando. Os governos estaduais precisam ir além e assumir o compromisso de intensificar as ações de fiscalização”, assevera a pesquisadora.

Índices nos estados teve forte aumento

Entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal brasileira, apenas o Amapá não apresentou em 2021 um aumento do desmatamento em relação a 2020. Além de superarem a devastação registrada no ano anterior, Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins também tiveram as maiores áreas de floresta destruídas em 10 anos.

Historicamente considerado o estado brasileiro que lidera o avanço sobre a floresta na Amazônia, por conta da extensão, da história de ocupação e dinâmica da economia, o Pará manteve em 2021 a primeira colocação no ranking dos que mais desmatam, com 4.037 km² devastados – o equivalente a 39% do registrado em toda a região nesse período. No Estado, houve aumentos da derrubada da floresta tanto em áreas federais quanto em estaduais. Além disso, mais da metade das dez terras indígenas e das dez unidades de conservação que mais foram registrados índices de desmate em 2021 ficam em solo paraense.

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(Vinícius Mendonça / Ibama)

Segundo estado que mais desmatou, o Amazonas foi o que apresentou o maior crescimento na devastação em relação ao ano anterior. A destruição registrada em solo amazonense passou dos 1.395 km² derrubados, em 2020, para 2.071 km² devastados em 2021 - uma alta de 49%. No Amazonas, também houve aumento do desmatamento tanto em áreas federais quanto estaduais.

Terceiro colocado no ranking de desmatamento em 2021, o Mato Grosso devastou 1.504 km² no período, 38% a mais do que no ano anterior. Isso fez com que o estado tivesse o segundo maior aumento em relação a 2020. Rondônia (1.290 km²) e Acre (889 km²) ocuparam a quarta e a quinta colocação em área desmatada, mas o Acre foi o terceiro com o maior aumento em comparação com 2020, acumulando 28% de crescimento do avanço sobre a floresta, aponta o Imazon.

No período entre 1 agosto de 2020 a 31 julho de 2021, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira foi de 13.235 quilômetros quadrados (km²). O índice apurado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) representa um aumento de 21,97% em relação à taxa de desmatamento do período anterior.  As informações foram divulgadas em 18 de novembro, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Tem que avançar a regularização fundiária e o pagamento por serviços ambientais, de modo que o proprietário da terra entenda que, ele tendo 80% da sua área preservada, aquilo vai dar um recurso para ele anualmente e vai compensar muito mais do que ele estar na ilegalidade e desmatar", general Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

O mapeamento é feito com base em imagens do satélite Landsat e similares, e considera como desmatamento a “remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas”.

Conforme os dados do Inpe, os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia acumularam 87,25% desse desmatamento estimado na Amazônia Legal - sendo o Pará o estado com a maior contribuição absoluta para esse avanço (5.257 km2) e também a menor variação percentual de desmatamento (7,31%).

“Tem que manter a pressão nas operações”, diz vice-presidente da República

No final do ano passado, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, afirmou que é preciso "manter a pressão nas operações" contra os crimes ambientais na Amazônia, mas também sustentou a necessidade de avanços em outras áreas, como pagamento por serviços ambientais e regularização fundiária. Mourão comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal.

Na época, Mourão era questionado se haveria algum ajuste nas ações do governo após os sequentes resultados negativos divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).  "Tem que manter a pressão nas operações, né? Mas, também, tem que avançar os outros aspectos, senão a gente não consegue resolver o problema", afirmou. "Tem que avançar a regularização fundiária e o pagamento por serviços ambientais, de modo que o proprietário da terra entenda que, ele tendo 80% da sua área preservada, aquilo vai dar um recurso para ele anualmente e vai compensar muito mais do que ele estar na ilegalidade e desmatar", afirmou o vice-presidente.

Os debates sobre o papel dos serviços ambientais e a regulamentação do mercado de carbono estiveram entre os temas tratados na conferência sobre o clima da ONU, a COP26, realizada no fim de 2021 na Escócia. Lá, o Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2028.

Pará afirma que reduziu desmatamento nas áreas estaduais

Sobre os últimos balanços do desmatamento na Amazônia, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) vem sustentando que, de acordo com os dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Estado apresentou redução nos seus índices de desmatamento em 7 dos 12 meses de 2021, nas áreas sob responsabilidade estadual, no período de janeiro a dezembro, quando se comparam os números com os do ano anterior. No acumulado, a diminuição é de 11% - uma redução de 445,15 km².

"Queremos uma Amazônia que dê oportunidade para a população, para que ela saia dessa disputa desigual para o meio ambiente" - Mauro O'de Almeida, secretário de meio ambiente e sustentabilidade do Pará.

Segundo aponta a Semas, o Estado apresentou ainda uma redução de 51% no desmatamento em todo o Estado no mês de dezembro, quando se comparam os dados com o mesmo período de 2020. Entre as ações realizadas pelo Pará no combate ao desmatamento e com meta de redução de gases relacionados ao efeito estufa no Pará, está a operação Amazônia Viva - que finalizou a sua 19ª edição, em dezembro passado, totalizando 273.488,23 hectares de áreas embargadas devido ao desmatamento ilegal. Os dados da operação Amazônia Viva somam resultados desde quando ela foi deflagrada no Estado, em junho de 2020.

O Pará também lista outros resultados da operação: 10.079,70 m³ de madeira em toras, apreendidos por exploração ilícita, e apreensão de 1.935,76m³ de madeira serrada, extraídos também de forma ilegal, além de 6.521 unidades de estacas. Também foram apreendidas 355 motosserras, utilizadas na derrubada de árvores, e 130 tratores, carregadeiras e escavadeiras usados em desmatamentos ilegais.

Segundo a Semas, 50 tratores, carregadeiras e escavadeiras foram destruídos ou inutilizados encontrados em área de difícil acesso. Além disso, 141 armas de fogo e 660 munições foram colocadas fora de circulação. Ao todo, 229 acampamentos também foram destruídos e 62 garimpos ilegais interditados, contabiliza a secretaria ambiental do Pará.

Plano quer atenção também ao homem

Um pouco antes da COP26 ganhar a atenção mundial, o secretário de meio ambiente e sustentabilidade do Pará, Mauro O'de Almeida, levou uma delegação à Climate Week, de Nova York, e ao Global Citizen Live - evento com shows de artistas internacionais. Lá, firmou compromissos ambientais do Pará contra as mudanças climáticas. Chris Martin, vocalista do grupo pop Coldplay, havia antes desafiado os governadores da Amazônia a avançarem em políticas ambientais mais sólidas.

"Fizemos nosso compromisso, que é a criação de três áreas protegidas, a expansão em 25% dos manejos florestais e alcançar a neutralidade da emissão de carbono até 2036", reiterou O'de Almeida, à época, citando o Programa de Recuperação Verde, firmado por um consórcio de governadores da região. Os compromissos da Semas também foram firmados em reuniões com parceiros e encontros com Aillen Lee, diretora do Programa de Conservação Ambiental da Fundação Gordon e Betty Moore, instituição americana que apoia descobertas científicas e conservação ambiental.

"Queremos uma Amazônia que dê oportunidade para a população, para que ela saia dessa disputa desigual para o meio ambiente, entre sobreviver e ter uma agenda ambiental. O plano de recuperação prevê não só de restauração florestal, mas também oportunidades à população da região amazônica, quase toda ela com baixos índices de desenvolvimento humano, para que ela possa melhorar de vida", asseverou Almeida.