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OPINION

Onde está o dinheiro?

Marcelo Thomé

Arquiteto e empresário da construção civil. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia, também preside a Ação Pró-Amazônia, associação que reúne as nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal. CEO do Instituto Amazônia+21, voltado para a promoção de negócios sustentáveis na Amazônia.

19/08/2022

Precisamos de 100 bilhões de dólares por ano. Em conversão aproximada, isso significa algo em torno de 480 bilhões de reais, a cada 12 meses. A cifra parece estratosférica, mas é a razoável para a humanidade enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Na COP 26, em Glasgow (na Escócia), os líderes mundiais decidiram fortalecer o Acordo de Paris, firmado, em 2015, por 175 países. O compromisso é fazer todo o possível para segurar o aumento da temperatura média do planeta abaixo de 2 graus centígrados, em relação aos níveis pré-industriais, tendo 1,5 graus como meta desejada.

Além de radicalizar a promessa de diminuição das emissões de carbono até 2030, a COP 26 também elevou o tom da cobrança da redução das emissões de metano e da diminuição do desmatamento. Evidente que o Brasil, com nossas vastas florestas tropicais, chama atenção nesse momento. O governo brasileiro assumiu metas ousadas de redução de emissões de carbono e de metano, e de diminuição do desmatamento, incluindo zerar o desmatamento ilegal até 2028.

Os pactos e compromissos firmados na COP 26 chegaram ao Brasil, especialmente à Amazônia, como uma esperançosa lufada de vento. Temos compromisso com a conservação do bioma amazônico e precisamos de dinheiro para manter nossas florestas de pé. O Brasil é o país com maior vocação para a economia verde e a Amazônia detém 15% da biodiversidade do planeta.

A decisão de colocar 100 bilhões por ano no combate às mudanças climáticas, com as nações mais ricas à frente desse caixa, não pode deixar de incluir oportunidades de investimentos nos biomas brasileiros, gerando negócios sustentáveis e revolucionando a indústria nacional sob o conceito ESG (sigla, em inglês para Meio Ambiente, Sociedade e Governança), com a prática verdadeira de valores ambientais, sociais e de governança.

Mas o tempo não pára e já estamos 10 meses distantes da COP 26, com as lembranças de Glasgow tornando-se, cada dia mais, preocupações com a pouca efetividade das decisões lá anunciadas. As lideranças mundiais precisam despertar para uma necessidade tão emergencial quanto a própria crise climática: a celeridade na movimentação de recursos para combate de causas do aquecimento global. É preciso fazer com que eles cheguem, efetivamente, nas comunidades, empresas e instituições capazes de produzir impactos positivos nas florestas e em todos os biomas do planeta.

A preocupação aumenta quando lembramos que, já em 2009, a COP 15, realizada em Copenhague (na Dinamarca), já falava em uma ajuda de 100 bilhões anuais para os países do Sul enfrentarem causas locais do aquecimento global. Embora a OCDC tenha divulgado que tais investimentos alcançaram 79,6 bilhões em 2019, o próprio presidente da COP 26, o britânico Alok Sharma, afirmava em Glasgow que os números para 2020 eram desconhecidos, sendo “quase certo que o objetivo não foi alcançado”. Sharma dizia ter esperança que a meta seria cumprida em 2023.

Infelizmente a transparência é pouca e não devia ser tão dificultoso saber por onde anda sendo gasto uma bagatela assim, de 100 bilhões de dólares. A COP 27 está agendada para novembro próximo, em Sharm Sheikk, Egito. Já é hora de uma conferência que traga clareza sobre os fluxos do financiamento climático, permitindo vislumbrar seus recursos aplicados de fato e diretamente em regiões críticas, como a Amazônia.