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OPINIÃO

Guerra e voto

Arquiteto e empresário da construção civil. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia, também preside a Ação Pró-Amazônia, associação que reúne as nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal. CEO do Instituto Amazônia+21, voltado para a promoção de negócios sustentáveis na Amazônia.

Marcelo Thomé

30/09/2022

Em fevereiro, a notícia da guerra na Ucrânia caiu como uma bomba no noticiário brasileiro. De repente, faltariam os fertilizantes russos que adubam nosso agronegócio. O impacto disso agravaria a inflação, atingindo famílias do Oiapoque ao Chuí. O incrível, pensei na época, é como o Brasil nunca considera possibilidades de problemas externos, como a guerra na Ucrânia.

Passaram-se os meses, as notícias da guerra perderam audiência e os efeitos do conflito no Leste na economia brasileira, são ainda menos comentados. Não é só o Estado, mas toda a sociedade, inclusive o setor produtivo, que parece ter perdido o interesse pelos estilhaços econômicos que atingem o Brasil desde a troca de ataques entre Putin e Zelensky.

Os riscos à nossa economia, tão falados em fevereiro e março, não brotam somente da guerra distante. São chagas da debilitada saúde da atividade produtiva brasileira, que padece de base sólida para lhe garantir sustentabilidade. Precisamos, urgente, trabalhar um país com visão de futuro. O primeiro passo é entender que a economia globalizada exige mais cuidado com a economia de base.

Insisto que o Brasil tem dois desafios fundamentais: a reconstrução da indústria nacional, apoiada na estruturação de cadeias produtivas sustentáveis, e a construção de um projeto de desenvolvimento sustentável com inclusão e protagonismo da Amazônia. Lógico que, no mundo do Século 21, um projeto nacional não se realiza com foco no próprio umbigo, é preciso ter o sentimento do mundo. Enquanto aqui vamos esquecendo uma guerra que ameaça recrudescer e mudar o humor do planeta, a Alemanha anuncia a nacionalização da Uniper, empresa gigante do setor de energia, fortemente afetada pelos cortes de fornecimento de gás natural da Rússia para a União Europeia.

Também é lógico que não se constrói um projeto de país sem o debate competente no Congresso Nacional. E, mais uma vez, a amnésia cívica nos ataca e limita. Quase toda atenção às eleições do próximo 2 de outubro é voltada para as disputas no campo do Poder Executivo. Muito pouco se discute sobre eleições para o Legislativo.

Desculpem a indelicadeza do aviso, mas precisamos identificar e votar em deputados e senadores que façam o Congresso Nacional incluir na sua pauta, mas incluir de verdade, a preocupação com 60% do território brasileiro e com o tesouro natural de valor incalculável que é a Amazônia brasileira. Essa preocupação deve estar no Acre, mas também na Faria Lima. Chega da mediocridade de ver a Zona Franca de Manaus como ameaça à indústria paulista.

O Congresso precisa atuar politicamente pelo fim das desigualdades regionais. A inserção da Amazônia na economia brasileira exige um efetivo plano de investimentos na região, com financiamento barato e desburocratizado para os negócios sustentáveis. Não se pode tratar o Sudeste e Amazônia de forma igual, porque as regiões são desiguais. Onde há mais exclusão, é preciso mais políticas públicas de inclusão das comunidades na economia. Em resumo, é preciso repensar o Pacto Federativo para incluir a Amazônia no Brasil.

Guerra e eleição são questões muito sérias para serem lembradas apenas enquanto acontecem.