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OPINIÃO

Duas conferências e uma esperança

Arquiteto e empresário da construção civil, CEO do Instituto Amazônia+21, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia.

Marcelo Thomé

30/12/2022

Brincando ou não, muitos comentam com estranheza que a COP-15 aconteceu depois da COP-27. Seria engraçado se fosse um descuido da ONU, mas o trágico é que isso esconde – ou revela – a menor importância dada à perda da biodiversidade, coisa tão perigosa quanto as mudanças climáticas. Sabemos que COP é a sigla em inglês para “Conferência das Partes”, sendo “partes” os países envolvidos. Mas COP-27 foi a vigésima sétima edição da Convenção do Clima, enquanto a recente COP-15 foi a décima quinta edição da Convenção de Diversidade Biológica. A boa notícia é que o mal-entendido da numeração deu visibilidade à COP da Biodiversidade, que sempre recebeu muito menos atenção que as conferências da ONU sobre mudanças climáticas.

Clima e Biodiversidade têm relação direta, o movimento de um impacta no outro, suas causas e efeitos se confundem, ambos exigem mais envolvimento da sociedade e mais eficácia do trabalho de contenção de países e mecanismos internacionais. Mas nesse caso o que importa é que tanto a COP-27 do Clima quanto a COP-15 da Biodiversidade estão sendo consideradas como das mais importantes entre todas já realizadas.

A COP-27 do Clima, no Egito, cresceu de importância ao fortalecer um mecanismo financeiro para compensação de perdas e danos, que ajuda países mais vulneráveis a enfrentarem os efeitos das mudanças climáticas. Mas as nações ricas ainda devem transparência e efetividade do financiamento climático, onde prometem injetar 100 bilhões de dólares por ano.

A COP-15 da Biodiversidade fez história com o Acordo Kunming-Montreal, assinado por 190 países, com a meta de proteger 30% das terras, oceanos e espécies, até 2030. Para se ter ideia, até hoje apenas 17% das terras e 8% dos mares têm alguma proteção formal. Por isso muitos já consideram que o marco desta COP-15 equivale para a biodiversidade ao Acordo de Paris para a questão climática, que pactuou a meta limite do aquecimento global em 1,5°C até 2100.

De toda sorte, é preciso urgência. Cientistas alertam que a atividade humana já alterou 75% dos ecossistemas do planeta e coloca centenas de milhares de espécies em risco de extinção. Por outro lado, a humanidade precisa prosperar e criar oportunidades para as populações excluídas. E o Fórum Econômico Mundial reconhece que metade da economia global depende da natureza.

A COP-15 da Biodiversidade criou meios para garantir 30 bilhões de dólares para conservação nos países em desenvolvimento. Da COP-27 do Clima, já se tinha o entendimento de que pelo menos 30% dos 100 bilhões de dólares anuais do Financiamento Climático devem ser aplicados na biodiversidade.

Acertadamente, o Brasil ratificou o Protocolo de Nagoia sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de seus Benefícios. Isso deu mais legitimidade à nossa participação na COP-27 do Clima e, mais ainda, na COP-15 da Biodiversidade. Nas duas ocasiões, apresentei o Instituto Amazônia+21 como uma inovadora iniciativa local para conexão entre investimentos nacionais ou transnacionais e oportunidades de negócios sustentáveis na floresta guardiã de uma das mais ricas biodiversidades da Terra.

Nas duas conferências, entre clima e biodiversidade, cresceu a esperança de salvar o único planeta que temos para viver.