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OPINIÃO

A Amazônia na agenda global

Jornalista, presidiu a Câmara dos Deputados, foi relator do Código Florestal e ministro nas pastas de Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa.

Aldo Rebelo

12/12/2022

A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas realizada no Egito terminou em um ambiente de pessimismo, sem registrar nenhum avanço significativo e anotando sinais preocupantes para a agenda mundial do meio ambiente.

Como convencer os países pobres a renunciar ao direito ao desenvolvimento em nome da redução da emissão de gases de efeito estufa, quando países de economia forte, como Estados Unidos, China e Índia, anunciam a ampliação do uso de combustíveis fósseis, principalmente carvão, o mais poluente de todos? Há no mundo 9 mil usinas movidas a carvão em funcionamento e não há qualquer perspectiva de desativá-las em curto e médio prazos.

As notícias não são boas para o Brasil, que deve esperar a escalada da pressão internacional no tema da Amazônia, que ocupou definitivamente a mesa principal no grande salão da geopolítica global que discute clima, meio ambiente e aquecimento.

A Conferência do Egito repetiu as mesmas dificuldades das reuniões anteriores em administrar a contradição entre os países ricos, defensores da redução drástica da emissão de gases de efeito estufa, e as nações em desenvolvimento, partidárias da flexibilidade que permita aos seus habitantes alcançar um nível mínimo de consumo e conforto.

A divisão internacional do trabalho em assuntos envolvendo o meio ambiente proposta pelos países ricos para o Brasil é a seguinte: eu faço a emissão de carbono por aqui para manter meu padrão de vida e por aí vocês sequestram o carbono emitido nas áreas da Amazônia e do Cerrado, receita destinada a outros grandes detentores de florestas tropicais como o Congo e a Indonésia. Aliás, uma nota positiva do encontro de Sharm el-Sheikh foi exatamente o documento reunindo Brasil, Congo e Indonésia em consórcio de proprietários das maiores áreas de florestas tropicais do planeta.

A primeira grande conferência mundial do clima ocorreu em Estocolmo, em 1972, e teve a diplomacia brasileira como grande protagonista. Na ocasião, o chefe da delegação do Brasil, embaixador Araújo Castro, impôs uma grande derrota à pretensão dos países desenvolvidos de separar a proteção do meio ambiente do direito ao desenvolvimento. O diplomata brasileiro acusava os países ricos de buscar o congelamento do poder mundial e, em nome do meio ambiente, bloquear o acesso dos países em desenvolvimento aos recursos naturais e matérias primas.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como ensinou o poeta, e a verdade é que o aquecimento global ofereceu aos ricos a justificativa moral, científica e política para subtrair o direito ao desenvolvimento do debate sobre as mudanças climáticas. No Egito, o Brasil esteve dividido e fragilizado, representado por duas delegações, a oficial, do atual governo, e a oficiosa, do governo eleito, uma presença ornamental, sem peso nas decisões finais, como demonstrado no desfecho da conferência. A dupla missão da diplomacia brasileira – colaborar com o mundo na preservação do planeta e proteger nosso direito ao desenvolvimento - exigirá dela o melhor de sua memória e de suas virtudes.