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Pós-eleições

Mulheres e indígenas pouco avançam em representatividade na Amazônia

Região teve apenas uma senadora eleita, dentre as nove vagas disponíveis nas eleições deste ano. Percentual feminino entre deputados também é inferior a 20%

Alice Martins

Com informações de Jobson Marinho

04/11/2022

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Professora Dorinha (União) foi a única mulher da região amazônica eleita para uma vaga no senado - Foto: Divulgação - Câmara dos Deputados

Apesar de mais de 51% do eleitorado da região ser feminino, as mulheres foram minoria nas últimas eleições, nos nove estados da Amazônia: nenhuma governadora e apenas uma senadora eleita (Professora Dorinha, do União - TO), do total de nove vagas. Os números são similares aos de 2018, quando também não houve mulheres eleitas para o Governo de Estado e apenas duas foram eleitas para o Senado, no Maranhão e Mato Grosso: Eliziane Gama (PPS - MA) e Juíza Selma (PSL - MT) - esta última foi cassada no primeiro ano de mandato, sendo substituída, após novas eleições para o cargo, por Carlos Fávaro (PSD), em 2020.

Ao avaliar o resultado para deputados, tanto federais, quanto estaduais, a representatividade feminina também mostra pouco avanço. As mulheres representam apenas 18,6% dos deputados federais eleitos da região e 19,12% dos deputados estaduais. Os resultados também são similares a 2018, quando elas caracterizavam 18,48% de deputados federais eleitos e 18,33% dos deputados estaduais da região.  

Os estados do Amazonas e Tocantins não elegeram nenhuma mulher em suas bancadas na Câmara Federal desta vez - o Amazonas também não elegeu representante feminina em 2018 e naquele ano Maranhão também não elegeu mulher para deputada federal, mas neste ano elegeu três

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Gleys Ramos, coordenadora do OUTRAS - Foto: Arquivo pessoal

Gleys Ramos, coordenadora do Observatório Transdisciplinar sobre Feminismo, Política e Métodos (OUTRAS), do estado do Tocantins, lamenta o resultado das eleições deste ano e avalia alguns dos fatores que contribuem para o baixo crescimento das mulheres na política da região. “Não conseguimos avançar em termos de representatividade porque quando uma mulher é eleita, geralmente, preenche uma vaga que, anteriormente, já era ocupada por outra mulher. Ou seja, o número não cresce”, explica.

Para ela, outro fator que afasta a inserção de mais mulheres é a violência política, um problema também percebido no restante do Brasil e do mundo. De acordo com pesquisa realizada pelo DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência,  três em cada dez candidatas, nas eleições de 2020, foram discriminadas por serem mulheres.

Apenas uma indígena da região foi eleita para o Legislativo federal

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Silvia Waiãpi (PL-AP), eleita para o cargo de deputada federal - Foto:  Fatima Meira/Futura Press/Estadão

Em termos de representatividade, um fato de relevância é que, em todo o Brasil, apenas cinco pessoas autodeclaradas como indígenas conseguiram um lugar na Câmara Federal. Desse quantitativo, apenas uma, Silvia Waiãpi (PL-AP), eleita para o cargo de deputada federal, é da Amazônia, região que concentra 98% da área total de terras indígenas demarcadas do país, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Mesmo em Roraima, estado onde está a maior terra indígena do país (Yanomami),  nenhum candidato indígena foi eleito.

Toya Manchineri, coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), avalia como abaixo das expectativas o resultado regional do movimento “Bancada do Cocar”, articulação nacional que buscou eleger candidatos ligados às associações indígenas, em diversas instâncias.

Para Manchineri, o que falta para ampliar a representatividade política é se aproximar de outros grupos da população. “Precisamos fazer uma aliança com os quilombolas e ribeirinhos para as próximas eleições, para defender os interesses coletivos. Temos que trabalhar também a população urbana, ocupar mais espaços para ganhar mais visibilidade entre as pessoas não-indígenas”, finaliza.